Ao conhecer o Shalom, me deparei com uma realidade muito nova: casais servindo junto com jovens; padres preocupados com a evangelização; demais irmãos da comunidade atentos e pacientes com seu povo. Com o tempo, fui identificando que havia algo em comum entre todos eles, sejam celibatários, sacerdotes, famílias, ou jovens em discernimento: um carisma que os impulsionava a ir além. Ir além das suas próprias forças físicas, dos seus planos pessoais; dos seus desejos mais íntimos. Depois percebi que o impulso missionário era o responsável por fazer milhares deles deixarem suas casas, seus sonhos, suas famílias e até relacionamentos pelo Reino dos Céus.
O inquietar do Senhor diante da humanidade que sofre
Essa lógica no início não era fácil de admitir. Mas o que fazer diante do apelo de Deus, após um Seminário de Vida, ou de um retiro de célula, onde se percebia a alegria reluzente no olhar dos irmãos? Mesmo assim, ainda parece ser assustadora a ideia de deixar nossa casa e nossa terra para irmos em missão, por exemplo, seja como Comunidade de Vida, seja como jovem ou adulto, em discernimento, ou como Comunidade de Aliança, se não fosse o inquietar do Senhor diante da humanidade que sofre.
Prosseguir nesse caminho também parece difícil, apesar da beleza da vocação Shalom. Talvez porque estejamos olhando para nossas capacidades, simplesmente; ou mais preocupados com os holofotes; ou ainda com os reconhecimentos humanos. Sim, digo humanos, porque não é confortável para ninguém quando recebemos críticas, nem quando enfrentamos inúmeros desafios sem apoio dos irmãos.
Eis outro aspecto muito belo da vocação Shalom, a vida fraterna, pois é ela que gera comunhão de vida e de sentimentos entre nós, conforme nos orientou o Senhor em Atos 4, 32-33. Até porque muitas vezes queremos fazer coisas para Deus, sem ouvir Deus, que tudo vê e transforma, inclusive nossos pensamentos e sentimentos.
Encontro Pascal com Cristo
Entro agora num aspecto crucial para qualquer vocação: Reavivar continuamente o encontro pascal com Cristo. Sem ele não conseguimos gerar frutos do Espírito, ao contrário corremos o risco de dar frutos da nossa humanidade pecadora e ferida aos outros. Da mesma forma, não conseguimos experimentar ou manter uma vida sobrenatural, muito diferente da que é vendida pelo o mundo, seja para o artista da Cia de arte ou para o Servo de Seminário. Infelizmente, nossa carne, por força do pecado, range e dói.
Somente o Espírito é capaz de derramar a força da graça para deixar morrer o homem velho, a mulher velha e fazer nascer o homem novo, a mulher nova, seja para ser apoio dos irmãos ou reconfortá-los na fé, seja para santificar a nós e a nossa família. Peçamos ao Senhor que renove a cada dia nossa vida ordinária de oração, para que por meio da contemplação, da unidade, da vida fraterna, entre padres, celibatários, solteiros, jovens e famílias, da obra, da Comunidade de Vida e de Aliança, consigamos viver essa vida sobrenatural, que é loucura para o mundo, mas, para os que creem, é sabedoria e vitória de Deus. Amém.
Shalom!
Terezinha Alburquerque