“Para devolver alegria aos homens é preciso que nos permitamos experimentar
da misericórdia de Deus, em unidade, fraternidade.”
Linha vermelha do metrô. Estações cheias. É noite de carnaval. Em meio à confusão de gentes – sim, no plural, porque são tantas fantasias, estilos e expressões que é impossível falar em um público homogêneo – ali no meio alguns jovens se destacam.
É impressionante porque falam baixo, não chamam atenção pela voz, e menos ainda pela vestimenta. Mas ainda assim, possuem algo de diferente. Pouco a pouco, os transeuntes silenciam para observá-los. Esses amigos estão sorrindo, como tantos, mas esses têm olhares que revelam uma alegria peculiar. Dialogam com afeto, com empatia, e cada qual parece sorrir pela alegria do outro.
O vagão está em silêncio. Algumas pessoas se aproximam mais. De onde eles são? De onde vem essa paz? Quem estiver atento a qualquer um dos observadores, será capaz de ver o que eles agora de certo modo já compreendem: “Vede como eles se amam”.
O retiro de carnaval da Comunidade Católica Shalom “Reviver”, com o tema “Alegra-te”, reuniu centenas em São Paulo nos últimos três dias. Essa gente sabe, por experiência, que a alegria oferecida nas ruas é apenas anestesia. Não cura as feridas, e não permanece.
“Jesus disse: ‘Encham as talhas’. É preciso nos enchermos do amor de Cristo se quisermos doá-lo aos outros. Vocês já ouviram aquele ditado: ninguém dá o que não tem. Para se encher desse amor, para alcançar as grandes graças, precisamos de fidelidade na vida de oração”, disse o frei dominicano José Almy Gomes na pregação do dia.
A oração pessoal é um carvão aceso, vira brasa, explicou o frei. Se você mantém o carvão nessa temperatura e o leva a se unir com outras brasas, haverá um grande fogo. “Há quem pense ‘eu rezo sozinho e isso me basta’. Mas não por acaso o Pentecostes ocorreu em Comunidade. Não por acaso Paulo precisou entrar na Comunidade para voltar a enxergar. Há graças que Deus só nos concede em Comunidade, porque Ele quer que cresçamos juntos na fé”.
Para devolver alegria aos homens, alegria verdadeira, esse “alegra-te” que vem do fogo ardente, é preciso que nos permitamos experimentar da misericórdia de Deus, em unidade, fraternidade. “É melhor a alegria de quem se esforça em viver em Comunidade, do que ser alegre sozinho”, concluiu frei Almy.
Talhos cheios. Tão cheios que conseguimos compartilhar vinho com um vagão inteiro. Felizmente eu estava entre esses. Felizmente, eu era uma delas. Com esse brilho que silencia multidões. Brilho que transborda. Brilho que é reflexo de um Deus que se faz Homem, todos os dias, no meio de nós.
Salmo 133:
Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça (…) Ali o Senhor ordena a benção e a vida para sempre.
Marília Saveri
Missão São Paulo – Perdizes