Reciclagem Shalom1998 – Formação Doutrinária – Parte III
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De tudo o que foi dito, podemos constatar que o Espírito Santo é verdadeiramente o coração da vida cristã, a sua própria respiração, de modo que não se trata de sermos “devotos”do Espírito Santo, mas de viver e respirar o Espírito Santo.
Se por um lado não é fácil descrever o Espírito Santo, por outro lado, Ele transforma e transfigura de tal modo a vida do cristão, realizando uma mudança tão profunda naqueles que se deixam guiar por Ele, que Sua presença não pode passar despercebida.
1. O Espírito nos torna participantes da vida divina
II Pd 1,4
Isto acontece pelo Batismo, através do qual morremos para o pecado e nascemos pa-ra uma vida nova, isto é, somos purificados dos nossos pecados e inicia-se em nós um processo de "cristificação". Assim é que o Espírito Santo vai "esculpindo"a imagem de Cristo em cada batizado.
2. O Espírito nos dispõe para a acolhida da vida divina
I Cor 2,2-5.12-14
O Espírito Santo age lá onde nasce a nossa opção fundamental. A fé, embora pressu-pondo a colaboração da liberdade humana, é um dom de Deus, e como qualquer outro dom este é concedido pelo Espírito Santo. Assim é que o cristão, animado pela fé, pode mudar totalmente de atitude diante do mundo e da realidade, olhando e interpretando cada coisa através dos olhos do Espírito. É Ele que ajuda a discernir tudo o que na história se opõe ao plano de Salvação, e que abre o coração aos mistérios de deus, a ponto de se ver a vida, os acontecimentos, a história toda sob a Sua luz. Podemos compreender sobretudo o mistério da cruz, que, de outro modo, seria simplesmente loucura para a razão humana. Em outras palavras, trata-se de captar a essência do Evangelho, isto é, a lógica própria de Deus, que é oposta à dos homens, segundo a qual a vida nasce da morte, reinamos servindo, e nos tornamos livres e felizes na medida em que somos ca-pazes de nos doar aos outros sem cálculos e sem medidas, na mesma linha traçada por Cristo com o seu comportamento.
3. O Espírito nos torna filhos no Filho
Rom 8,14-16
Tendo recebido o Espírito Santo, somos enxertados no Filho de Deus (Cristo), como ramos em uma videira. Assim é que, sendo Cristo Filho de Deus por natureza, nós nos tornamos filhos de Deus por Graça. A adoção divina estabelece um vínculo mais estreito do que a filiação física. Mas o Espírito Santo não somente nos faz filhos de Deus, mas nos dá experimentar esta filiação, ou seja, é capaz de produzir em nós a certeza e o sentimento de sermos filhos de Deus. O Espírito então infunde em nós uma liberdade filial diante de Deus e uma confiança incondi-cional nele, tal como as crianças têm em seus pais. esta disposição e ânimo filial não é algo me-ramente afetivo, mas brota no íntimo da pessoa, fazendo-a crescer e transformar-se em todos os aspectos de sua vida. Na experiência da filiação divina, o Espírito nos revela a nós mesmos quem de fato somos, fazendo-nos descobrir o sentido da nossa existência. (Veja Gl 6,15; II Cor 5,17).
A consciência da filiação divina se expressa existencialmente na oração filial e na obediência filial ao Pai, em seguimento a Jesus, que é o Filho Primogênito. Assim é que a vida filial do cristão sob a guia do Espírito Santo será uma constante procura da vontade do Pai para se conformar a ela, por amor, e não por temor, porque o Espírito Santo é Aquele que liberta do medo do escravo e nos introduz na gloriosa liberdade dos filhos de Deus ( Veja Rm 8,14-16 e Gl 4,4-7)
4. O Espírito nos leva a orar como filhos de Deus
Rom 8,26-27
Sozinho, o homem pode unicamente pronunciar palavras e falar consigo mesmo, mas não orar. A oração é sempre dom do próprio Deus. A oração é ação de Deus e do homem. Brota do Espírito e de nós. O homem ainda vive imerso na flutuação dos acontecimentos, e por isso experimenta dificuldade em rezar, sem nem mesmo saber o que pedir. Por isso é preciso que o Espírito venha orar nele e por ele, intercedendo por Ele de acordo com a vontade do Pai. É na oração que tomamos cada vez mais consciência da nossa relação filial com Deus. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica: "Na Nova Aliança, a oração é a relação viva dos filhos de Deus com Seu Pai infinitamente bom, com Seu Filho Jesus cristo, e com o Espírito Santo (…) A vida de oração desta forma consiste em estar habitualmente na presença do Deus três vezes Santo e em comunhão com Ele".
5. O Espírito nos transforma em testemunhas de Cristo
Jo 15,26-27
Não é possível testemunhar a Cristo sem a força do espírito santo. É dele que rece-bemos a força para testemunhar. S. Cirilo de Jerusalém dizia que “ se ninguém pode sequer dizer que Jesus Cristo é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo (veja I Cor 12,3), quem poderá dar a vida por Jesus a não ser sob a ação do mesmo Espírito Santo?”
As testemunhas por excelência são os mártires (que em grego, significa exatamente “testemunhas”), os de ontem e os de hoje, os quais doaram a própria vida até o extremo, para com Deus e para com os homens. Mas todo cristão é chamada testemunhar o Evangelho com a doação da própria vida, ainda que isso não exija sempre o martírio de sangue, mas o das dificul-dades da vida cotidiano: solidão, doença, velhice, pobreza, incompreensões, fracassos da vida. Em todas essas coisas é o Espírito santo que intervém para nos fazer experimentar, na provação e no abandono, a “perfeita alegria”(Veja Tg 1,2 e IPd 4,14). Por isso, S, Francisco considera que “acima de todas as graças e dons do Espírito santo, as quais Cristo concede aos seus amigos, está o fato de vencer a si mesmo, e de boa vontade, por amor a Cristo, aguentar castigos, injúrias, opróbrios e incômodos”(Fioretti,VIII). Que os Batizados estejam conscientes de que ser cristão significa estar prontos para morrer por Cristo a cada momento, de tal modo que o martírio se prolongue assim em toda a sua vida.
O Espírito Santo ainda inspira e fortalece os “sucessores do mártires”, ou seja, os homens e mulheres consagrados na vida religiosa, que é um dom de Deus Pai à Sua Igreja, por meio do Espírito Santo.
Ainda ao lado deste “novos mártires”João Paulo II lembra o testemunho de tantos esposos cristãos que realizaram a sua vocação cristã no Matrimônio à custa de enormes sacrifí-cios.
Assim é que à frente de bispos, padres, diáconos, monges, virgens e fiéis leigos atra-vés de todas as nações, está o Espírito Santo, que preside e distribui a cada um o seu carisma.
6. O Espírito Santo nos conduz à liberdade de filhos de Deus
Romanos 8,1-12
Na seqüência da festa de Pentecostes, a Igreja reza assim ao Espírito Santo: “Sem a tua força nada existe no homem, nada de inocente. Lava o que é sujo, rega o que é árido, cura o que sangra. Dobra o que é rígido, aquece o que é frio, dirige o que está transviado”. Assim é que através doEspírito, o coração se eleva, os fracos são conduzidos pela mão, os defeituosos se tor-nam perfeitos. Mas além disso existe um fruto do Espírito que brota diretamente da Caridade e do fato de sermos filhos no Filho: a liberdade. Por isso, “quanto mais alguém tem Caridade, mais tem a liberdade” ( Veja ICor 3,17), porque é impulsionado a fugir do mal não por medo, mas por amor. Sto Tomás de Aquino ensina a esse respeito: “Ora, é exatamente isto que realiza o Espírito Santo, que aperfeiçoa inteiramente o nosso espírito, comunicando-lhe um dinamismo novo, de tal modo que ele se abstem do mal por amor”.
Mas a ação do Espírito Santo na vida do cristão não é automática. Este não permane-ce numa atitude passiva diante dessa ação, mas colabora nela, primeiramente eliminando o que pode impedir a obra do Espírito. Para isso, a vontade humana é uma condição essencial. Ensina S. Basílio, Bispo de Cesaréia, que “no que diz respeito à íntima união do Espírito Santo com o ser humano, não se trata de uma aproximação local, mas de exclusão de paixões”.
Esse processo de purificação é chamado nas Cartas, aos Gálatas e aos Romanos de “luta contra a carne”(Carne aí significa o homem decaído, sujeito ao poder do próprio egoísmo, e qe por isso vê tudo idolatricamente, em referência a si mesmo). Embora pelo Batismo o Espírito já lhe tenha sido dado, permanece a triste e ameaçadora possibilidade de “sufocar”as obras do Espírito e voltar a viver como escravos do próprio egoísmo.Por isto é que S. Paulo exorta a não nos sujeitarmos de novo ao jugo da escravidão, porque fomos chamados à liberdade (Veja Gl 5,1), e esta não deve dar nenhuma oportunidade à carne, já que seus desejos se opõem ao Espiri-to (Veja Gl 5,16-17) e onde está o Espírito, aí sim está a liberdade (Veja II Cor 3,17). Assim é que a ascese não constitui um conjunto de regras morais, mas um meio de adquirir o Espírito Santo, e com Ele, a verdadeira liberdade.
Seqüencia desta formação:
Seqüencia desta formação:
Seqüencia desta formação:
Parte I – DOM QUE NOS IMPULSIONA AO DOM
Parte II – O ESPÍRITO SANTO NA CRIAÇÃO