Deus, em sua Providência, ao criar o ser humano, uniu o prazer às operações necessárias para manutenção da vida individual e da própria espécie humana para que estas tarefas fossem executadas mais facilmente. Uma destas operações vitais é a nutrição, pela qual ingerimos alimentos e bebidas e que, pelo sentido do paladar, nos causam boas sensações, até chegarmos à saciedade. No entanto, em muitas ocasiões, comemos e bebemos além limite de saciedade.
Aqui, devemos acender um alerta: será que estamos caindo no pecado da gula? Primeiramente, devemos definir o que seja este pecado. Segundo o teólogo dominicano frei Antonio Royo Marín, em sua obra “Teologia Moral para Leigos”, o pecado da gula é um “apetite desordenado por comida e bebida”.
Este pecado, como nos diz o Catecismo da Igreja Católica (CIC), é listado entre os Pecados Capitais, juntamente com a vaidade, avareza, inveja, ira, luxúria e a preguiça. Mas, o que quer dizer pecado capital? Podem ser entendidos como hábitos maus, sendo também chamados vícios. No caso da gula, por exemplo, é o mau hábito comer e beber apenas pelo prazer que a alimentação proporciona.
Conforme Royo Marín, este excesso pode vir a ser um pecado grave, ou seja, um pecado que nos tira do estado de graça e exige confissão sacramental, quando: quebramos preceitos de jejum e abstinência; causamos danos graves à saúde; perdemos o uso da razão por embriaguez; causamos um desperdício grave; quando causamos escândalo em quem nos rodeia pela atitude gulosa; entre outras atitudes. Não chegando a estes extremos, considera-se pecado venial.
O Catecismo, no parágrafo 1865, alerta-nos sobre o perigo dos vícios capitais e como eles podem nos arrastar para outros pecados. No caso do pecado da gula, uma desordem é gerada em nós: nossa inteligência deixa de ter domínio sobre nossa vontade e somos levados pelos apetites do paladar, tornando-nos escravos de nossos sentidos! Podemos passar da gula para a luxúria, o vício dos sentidos sexuais!
Mas calma, a Misericórdia de Deus sempre oferece remédios para nossas misérias! Para cada vício, há uma virtude que lhe é oposta e pela qual podemos combatê-lo, e a virtude que modera os prazeres sensíveis chama-se temperança.
Para nos livrarmos desse vício, podemos seguir alguns passos: primeiro, se você identificou-se com alguma dessas situações de pecado mortal, faça um bom exame de consciência, busque um sacerdote e confesse todos os seus pecados graves; depois, mantenha uma vida de oração constante, é pela oração que recebemos forças para lutar contra nossas más inclinações; além disso, faça penitências, a mortificação dos sentidos ajudará muito nesse processo!
Escolha penitências relacionadas à alimentação: o jejum, principalmente às sextas-feiras; escolher algum componente da refeição que você goste menos; sair da mesa ainda com um pouco de fome; abster-se de um alimento muito querido por algum tempo. Você pode discernir com o seu diretor espiritual ou acompanhador qual penitência melhor se encaixa na sua realidade. Tudo isso ajudará no processo de fortalecimento da vontade e educação do corpo, restituindo a ordem natural tão querida por Deus em sua criação!
José Pedro Alves Santos
Obra Shalom