Formação

Depressivamente

É preciso ter atenção para não confundir período de melancolia ou luto com depressão.

comshalom

Sente-se triste na maior parte do dia ou quase todos os dias? Perdeu o prazer ou interesse em atividades rotineiras? Sentimento de desesperança? Está perdendo ou ganhando peso de forma acelerada? Sente-se cansado e fraco o tempo todo? Dificuldade de se concentrar ou tomar decisões? Dorme demais ou está há dias sem dormir à noite? Sente-se inútil e culpado? Tem pensamentos frequentes de morte ou suicídio? Caso você esteja sentindo alguns desses sintomas, mesmo sem ter passado por um processo de luto, possivelmente você se encontra depressivo ou depressiva.

Esse transtorno está assolando pessoas no mundo inteiro, consumindo e destruindo a alegria e o sentido da vida de quem por ele é afligido. O estado da pessoa depressiva acomete, ao longo da vida, mais as mulheres do que os homens, e quanto mais cedo for diagnosticada e tratada, menor será a chance de cronificação. Os episódios depressivos podem ser classificados como: leve, moderado e grave.

  • Na depressão leve os sintomas recorrentes são humor deprimido, perda de interesse em algumas atividades que antes fazia com prazer, falta de energia e mais dois sintomas característicos do transtorno citado anteriormente, mas apesar disso o sujeito continua com suas funções rotineiras.
  • A pessoa depressiva moderada apresenta até sete sintomas, alguns em grande intensidade e com isso apresenta grande dificuldade de manter sua rotina.
  • Na depressão grave o sujeito apresenta uma média de oito a dez sintomas, alguns em grande intensidade somados a uma grande agitação ou retardo psicomotor, e em alguns casos associados a psicose, alucinações e delírios, na qual existe um maior risco de suicídio.

É importante ressaltar que somente nos episódios de depressão moderada e grave é que o paciente deverá ser tratado com medicação passada pelo psiquiatra, juntamente com o acompanhamento psicológico. No episódio de depressão leve o tratamento será dado somente com psicoterapia.

Durante várias etapas da vida passamos por sofrimentos, perdas, dores que deixam marcas em nossa história e dependendo de como essas marcas são registradas, influenciarão a formação da nossa identidade. Algumas pessoas conseguem refletir sobre suas dores, ressignificar sua vida, enquanto outras não lidam com a mesma desenvoltura, podendo adoecer e entrar num estado de perda do controle de si e da sua própria vida.

Para a pessoa depressiva, a visão sobre a vida se restringe ao “agora”, o futuro já não existe, torna-se inalcançável, os pensamentos são cristalizados pela cegueira da dor, o corpo pesa, a mente para, o sabor já não existe, nem na comida, nem na vida e para sair dessa situação, elas não dependem só da força de vontade, mas também de recursos externos que servirão de apoio, estímulo e esperança de transformação.

É preciso ter atenção para não confundir período de melancolia ou luto com depressão. A pessoa melancólica é diferente da pessoas depressiva. Melancolia surge muitas vezes diante de acontecimentos que nos causam dor e sofrimento, mas conseguimos superar e depois de um período ela desaparece. O luto surge diante de uma perda em que é inevitável o sofrimento e é preciso que esse período seja respeitado, pois é um momento de elaboração psíquica a fim de assimilar a transitoriedade da vida. Já a depressão permanece constante ou oscilante, com motivo aparente ou implícito, mas permanece e o sujeito que se permite ser tratado aprenderá a lidar com ela e controlar seus sintomas (PINHEIRO; QUINTELLA; VERZMAN, 2010).

A vida comunitária, a vivência da fé e o apoio familiar são pontos cruciais no apoio ao tratamento da depressão. O estímulo para retornar ao convívio social, religião, esportes que antes praticava, ou seja, o retorno da rotina e autonomia sobre sua vida são essenciais para a recuperação e estabilidade do paciente. Vejamos como cada elemento pode ser crucial.

Na vida comunitária encontramos no outro palavras de conforto, escuta amorosa, a descoberta de que muitos também passam ou passaram pelo mesmo sofrimento e nesse encontro descobrimos forças para enxergar novos caminhos, novas saídas. Não se faz mais necessário viver só, pois o amor dos amigos, a vida de oração, o apoio, a acolhida trazem um novo sentido.

A vivência da fé origina esperança! Crer em algo além do homem, além do tangível traz a confiança e segurança de transformação e essa escolha revigora todo e qualquer sofrimento. A fé que Deus existe e que é misericórdia, onde Seu amor por nós é imensurável ressignifica o que outrora não tinha significado. Aprende-se a ofertar a vida através da evangelização daqueles que sofrem e esse contato é transformador para ambas as partes quando se esquece um pouco das próprias dores para tratar as feridas no próximo.

A vida espiritual ensina a autorreflexão, bem como a pensar no que somos, nas escolhas da nossa vida, num processo de autoconhecimento e transformação. Essa vivência auxilia no tratamento como um processo de aceitação do que está acontecendo e a concordância em deixar-se cuidar.

Observa-se na conduta de algumas pessoas a necessidade de anular o tratamento, seja interrompendo abruptamente a medicação ou desistindo da psicoterapia, como se a depressão dependesse somente da fé. Cuidado!

A psicoterapia é indispensável no apoio à ressignificação dessa dor, pois o sujeito reencontrar-se-á com seu eu e na resiliência dará um novo sentido a sua vida. Nos casos mais graves a medicação será de extrema eficácia e eficiência na estabilização e controle dos sintomas. É crucial compreender que um tratamento de uma pessoa depressiva não precisa eliminar o outro e que isso não tornará sua fé menor, pois todos (religião, psicoterapia e psiquiatria) servirão como uma rede de apoio que auxiliará no controle dos sintomas da depressão.

Joice Rocha

Estudante de Psicologia

Postulante de segundo ano da CAL

VEJA TAMBÉM

Pessoas depressivas, como ajudá-las

Depressão: o inverno também passa

7 dicas para vencer a ansiedade

Oração para vencer a ansiedade

O que fazer para sair do vazio existencial

Youtube: viva o hoje

 

Referências Bibliográficas:

BAHLS, Saint-Clair. Aspectos clínicos da depressão em crianças e adolescentes. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v78n5/7805359.pdf Acesso em: 30/10/2017.
MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL. Prevenção ao suicídio – Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Organização Pan-Americana da Saúde. UNICAMP. Disponível em: https://www.cvv.org.br/wp-content/uploads/2017/05/manual_prevencao_suicidio_profissionais_saude.pdf Acesso em: 25/10/2017.
PINHEIRO, Maria Teresa da Silveira; QUINTELLA, Rogério Robbe; VERZTSMAN, Júlio Sergio. Distinção teórica- clínica entre depressão, luto e melancolia. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pc/v22n2/10.pdf Acesso em: 9/11/2017.
TENG, Chei Tung; HUMES, Eduardo de Castro; DEMETRIO, Frederico Navas. Depressão e comorbidades clínicas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v32n3/a07v32n3.pdf Acesso em: 8/11/2017.
VIEIRA, José Luiz Lopes; PORCU, Mauro; ROCHA, Priscila Garcia Marques. A prática de exercícios físicos regulares como terapia complementar ao tratamento de mulheres com depressão.  Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v56n1/a07v56n1.pdf Acesso em: 05/11/2017.

 


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.