Maria nasceu em abril de 1996. Por ser filha única, logo tornou-se a mais querida da família.
Em sua infância, recebeu as maiores regalias possíveis que uma primogênita poderia ter. O melhor quarto da casa, as roupas e os brinquedos mais caros…
Dona Ana e seu Joaquim, seus pais, eram conhecidos na cidade onde moravam pelas riquezas que possuíam. E assim ela foi crescendo. No seio de sua família, em uma casa grande, robusta, com tudo o que desejava.
Maria tinha professores particulares para dar reforço na semana, manicure e cabeleireira à domicílio…
A vida de princesa parecia perfeita. Afinal de contas, ela merecia, não é verdade? A primogênita da família tinha que ser servida, sempre.
Certo dia, os pais de Maria foram chamados na escola onde ela estudava. A jovem, aos 15 anos, estava sendo notificada pela coordenação.
O motivo?
Maria não conseguia obedecer às mínimas atividades que implicavam maiores sacrifícios. Queria sempre ser servida pelos demais colegas, era autoritária e só fazia aquilo que gerava satisfação imediata.
Exercícios complicados, que poderiam exigir maior esforço e concentração? Nem pensar! Quando uma aula era desagradável, ela simplesmente abria a bolsa, pegava o seu smartphone de última geração e ia assistir os vídeos mais atrativos da internet.
Os pais, tristes com a situação, foram conversar com a jovem:
— Filha, as coisas não podem ser assim. Você não pode simplesmente se jogar naquilo que lhe satisfaz!
— Mas papai, são coisas pequenas. É mais prazeroso ver aquele vídeo no YouTube do que a professora Guadalupe, o senhor sabe… e eu tenho os professores particulares. Eles podem me ajudar na hora que eu quiser.
— Tudo bem, querida…
E assim Maria foi crescendo… aos 18 anos, ia para as Raves mais ”descoladas” nos finais de semana.
Ficava com vários garotos e gastava todo o dinheiro que os pais lhe davam com roupas de grife, perfumes caros e ingressos para festas privativas com a high society.
Certo dia, voltando para casa depois de uma festa com o motorista da família, por volta das 4h da manhã, a jovem recebeu uma ligação:
— Alô… Maria?
— Oi. Quem fala?
— Aqui é Tomás, segurança da casa dos seus pais. Houve um assalto aqui. Dois homens com capuz entraram em sua casa, foram direto no cofre dos seus pais e levaram uma boa quantia em dinheiro e em jóias.
— Tomás… não diz isso. Para. Isso não pode ser verdade. E os meus pais, onde estão?
— Maria, houve uma troca de tiros. Nós tentamos de todas as formas impedir que tudo acontecesse. Mas os seus pais foram atingidos e morreram na hora. As ambulâncias estão aqui. Você precisa vir pra casa logo.
(Maria desliga, aos prantos…)
Ao chegar na mansão, o caos. Ambulâncias, equipes de reportagem, perícia forense… naquele momento, a jovem entrou em casa e percebeu que havia tudo ali, menos o essencial.
As roupas continuavam no lugar. A coleção de bolsas e perfumes também. Mas a riqueza do lugar parecia agora um eco vazio e sem sentido diante da ausência dos seus pais.
Dias depois, os tios de Maria leram com ela o testamento que dona Ana e seu Joaquim deixaram. Para a surpresa da jovem, no meio de tantos documentos, havia uma carta escrita pelo seu pai:
“Querida Maria. Você é o nosso maior tesouro e sempre será. Fizemos o possível para lhe dar uma vida abundante. Infelizmente, os excessos que lhe rodearam e a desordem da busca por uma vida sempre prazerosa, por vezes lhe impediram de enxergar o essencial. Por isso lhe fazemos um único pedido: venda metade dos nossos bens, que também são seus, e dê aos nossos funcionários fiéis que sempre nos serviram. Pelo seu bem e pela sua felicidade nesta terra e na vida futura, quando nos reencontraremos. Com amor, Ana e Joaquim”.
E assim Maria o fez.
O amor pelos seus pais fora a única coisa capaz de fazê-la obedecer e se desapegar de tantos tesouros.
Aos 20 anos, a jovem vendeu a mansão, mudou-se para um apartamento, e aos poucos, distribuiu metade da herança da sua família com a babá que lhe criou, o mordomo que lhe serviu, as duas empregadas e o motorista.
Diminuir o padrão de vida pela metade não foi tarefa fácil.
Moderar a atração dos prazeres era uma nova missão necessária, visto que agora, nem tudo estaria mais à sua disposição.
A sobriedade no uso dos bens foi a verdadeira escola de Maria, que entendeu que ter tudo à sua disposição não era sinônimo de felicidade plena.
Maria descobriu o verdadeiro significado da palavra elegância, que consiste em saber eleger.
O uso desenfreado do dinheiro não teve mais vez, porque agora ela precisava viver com o que tinha — e ainda que não fosse pouco, também não era comparável ao que a jovem possuía antes.
Com o uso dos bens de forma ordenada, ela também passou a controlar os seus impulsos passionais que geravam tanta instabilidade em seus relacionamentos.
Aos 24 anos, conheceu José, jovem que morava em seu prédio, e começou a namorar depois de um tempo.
Depois de juntar as suas economias durante alguns anos, a jovem abriu uma loja de especiarias que logo ficou conhecida em São Paulo pela sua variedade de opções.
“Os temperos de Maria” foi fruto de um planejamento paciente e seletivo. Ganhou reconhecimento pelo zelo e equilíbrio da dona.
A temperança foi a virtude que ordenou novamente a vida de Maria, que tornou-se uma mulher virtuosa, realizada e não menos apaixonada pela vida.
E a jovem, que um dia “dominava” em seu palácio, passou a reinar sobre os seus próprios impulsos e paixões. “Essa é a verdadeira vida”, constatou Maria.
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