Casado, pai de seis filhos, funcionário de um banco na Capital Paulista. Esse é José Forte, homem de poucas palavras, que trabalha, em média, oito horas por dia.
Um bom planejamento financeiro sempre foi a sua prioridade de vida. Ao chegar em casa, o dever de checar as planilhas parecia lhe chamar. Conferir o rendimento das suas pequenas ações era um hobbie no seu primeiro ano de casamento. Hobbie que não durou por muito tempo…
“Se as finanças estiverem bem, tudo irá bem”, era a frase que ele dizia para a sua mulher com constância. Teresa, sua esposa, que conheceu o jovem aos seus 15 anos, sabia o quanto ter as contas sempre organizadas era motivo de honra para ele.
A história dos dois começou na escola. José e Teresa eram da mesma sala de aula e se destacavam por serem bons alunos. José dominava os cálculos e Teresa era boa em Língua Portuguesa.
Logo iniciaram um projeto para ajudar os outros alunos da sala com reforços durante os intervalos de aula. O objetivo em comum uniu os dois, que se apaixonaram e começaram a namorar.
Aos 25 anos, Teresa foi pedida em casamento por José, que com a mesma idade, já havia juntado toda a renda dos seus estágios profissionais e iniciado um financiamento de um apartamento na grande São Paulo. Em pouco tempo os dois se mudaram e iniciaram uma vida juntos.
O primeiro filho chegou. As preocupações de José passaram a ser outras. Tudo era novidade.
— Teresa, eu não sabia que fraldas descartáveis eram tão caras. Esses pacotes estão indo além do nosso orçamento.
— Não é barato manter um filho no mundo de hoje, José. Mas você sabe que vale a pena…
Estranhamente, sair do orçamento por amor ao pequeno Luís era diferente. Ir ao shopping center e ver aquele brinquedinho que, bom, era a sua cara… às vezes era irresistível. Como um ser humano tão pequeno podia trazer tantos gastos? — pensava José.
Um novo ano chega e com ele, outra notícia… Teresa estava grávida novamente. Um segundo filho! E agora? E o orçamento?
— Teresa, será que conseguiremos reaproveitar as coisas do Luís com esse outro bebê que está chegando?
— Calma, José… você nem sabe se é um outro menino.
— Na verdade, eu não sei de nada. Esse abençoadinho nem estava nos meus planos.
O tempo passou. Chegou o segundo filho… o terceiro… o quarto… o quinto… o sexto! Meu Deus, o sexto filho.
— Teresa, precisamos nos mudar para um lugar maior. Dois quartos para seis crianças não dá. O pior de tudo, é que nos últimos anos, com as despesas da creche, dos planos de saúde, dos remédios, das fraldas e de tantas outras coisas, não conseguimos juntar um dinheiro reserva. Isso é assustador, Teresa. Não é a vida que planejamos.
— Tudo saiu conforme o não planejado, José. Mas sei que vamos conseguir. Você trabalha em um banco, lembra? Veja as condições de financiamento para uma nova casa. Podemos pagar aos poucos, durante os próximos anos. Foi assim quando nos casamos, lembra?
— Mas isso não estava no nosso orçamento, Teresa. O nosso casamento estava.
— E quem disse que podemos planejar tudo nesta vida, José?
Essas palavras, para José, soavam como uma convocação: diante da instabilidade da vida, era necessário coragem. Como pai de família, ele sabia que a qualidade de vida dos seus filhos dependia da sua ousadia de tomar decisões que envolviam passos grandiosos de fé. Era necessário muita fortaleza!
Foi assim que, com a determinação do casal, a família se mudou para uma casa maior. Aperta aqui, corta gastos ali… paga parcelado, pede desconto… as planilhas de José triplicaram e a sua ousadia também.
Quando as coisas estavam complicadas, o olhar da sua esposa lhe encorajava. Ser forte também é saber que alguém acredita em você.
Com o tempo, ele foi percebendo que por mais que o planejamento fosse importante, a abertura às circunstâncias da vida o faziam menos inseguro e mais feliz. Estar de peito aberto para acolher aquilo que também estava fora das suas estatísticas ia alargando o seu coração para os novos desafios.
E Deus parecia sempre sussurrar em seu coração: “Sê forte, José. Sê forte.”
Os anos passaram… as prioridades passaram a ser outras… o jovem José que gastava todo o seu tempo organizando cada centavo das suas finanças passou a ser um homem que topava ir a um jogo de futebol com o filho mais velho ou dar um dia de menininha para a caçula no salão de beleza.
Nem tudo estava mais nos seus planos. Nem tudo era mais sobre ele.
A medida das decisões de José passou a ser o amor. E os outros.
Certo dia, antes de dormir, a sua esposa lhe perguntou:
— “Se as finanças estiverem bem, tudo irá bem.” Você me dizia isso com mais constância, José. As suas prioridades mudaram?
— Primeiro as pessoas, Teresa. Nada é mais valoroso do que isso. Se estivermos juntos diante dos desafios da vida, tudo irá bem. Ainda que as finanças nem estejam tão bem assim… nada do que vivemos hoje estava nos meus planos. Mas que homem fraco eu seria se a minha vida fosse milimetricamente calculada…
José e Teresa entenderam, com a dinâmica da vida, que não é possível ter controle sobre tudo. Viver é sobre dispor, humildemente, os próprios dons em vista dos outros, é sobre trabalhar com dignidade e paciência, com disposição a acolher o que vier, sem espírito de revolta, mas com coragem, renúncia e disposição.
Mas para encarnar isso, eles precisavam ser fortes. E suportando constantemente as contrariedades da vida, eles puderam compreender que a virtude da fortaleza não implicava a ausência de problemas, mas a forma como eles são encarados.
José percebeu, exercendo a missão de pai e esposo que lhe fora confiada, que a sua firmeza diante das dificuldades da família era como um sustentáculo capaz de encorajar aqueles que dele dependiam.
E algum tempo depois, já com os seus cabelos brancos e anos de experiência na escola da vida, pôde concluir que sacrificar-se em favor de alguém era algo que exigia constância, confiança e humildade. Era necessário fortaleza.
— José, nada do que vivemos foi fácil. Eu mudei… você mudou…
— Não foi fácil, Teresa. E nunca será. A vida é para os que se encorajam de peito aberto. Desisti de calcular tudo. E hoje sou mais… mais…
— Hoje você é mais forte, José.
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