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A fé na Ressurreição da Carne, a vitória sobre a morte

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Umas das características mais fortes dos seguidores de Jesus, que deixaram espantados tanto os judeus como os povos pagãos, são justamente as virtudes da esperança, do amor e da coragem, mesmo diante de grandes provações. 

Sem dúvida, um dos pilares dessa fortaleza de ânimo e esperança é justamente a fé na Ressurreição. A confiança de que a morte não tem e nunca terá a última palavra. Leia a declaração de São Paulo: 

Os judeus pedem sinais milagrosos, os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, esse Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus. Pois o que é dito insensatez de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (At 2,22-25).

A mística gloriosa escondida por trás da oferta de Cristo na Cruz, bem como de Sua Ressurreição, só podem ser contempladas mediante a fé. A Igreja, apoiada no poder de Deus, declara:

Nós cremos e esperamos firmemente que, tal como Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, assim também os justos, depois da morte, viverão para sempre com Cristo ressuscitado, e que Ele os ressuscitará no último dia. Tal como a d’Ele, também a nossa ressurreição será obra da Santíssima Trindade: ‘Se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós’ (Rm 8,11)” (CIC 989).

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Por isso, mesmo a perda de um ente querido é vivenciada por uma pessoa de fé de forma diferente. As lágrimas são inevitáveis, bem como a saudade, porém, mais forte é a esperança e a confiança em Deus.

Crer na ressurreição dos mortos foi, desde o princípio, um elemento essencial da fé cristã. ‘A ressurreição dos mortos é a fé dos cristãos: é por crer nela que somos cristãos’: ‘Como é que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé. […] Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram’ (1Cor 15,12-14,20)” (CIC 991).

Como se dará a ressurreição prometida por Cristo?

A fé na ressurreição é uma fábrica de esperança. Apoiados nela, os fiéis do Senhor enfrentaram as pequenas e grandes provas da vida. Sua vitória sobre a morte é fonte de paz.A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus ao seu povo. A esperança na ressurreição corporal dos mortos impôs-se como consequência intrínseca da fé num Deus criador do homem todo, alma e corpo” (CIC 992).

No meio do povo judeu do tempo do Senhor, entre eles, os fariseus, muitos acreditavam e esperavam a ressurreição dos mortos operada por Deus. Porém, haviam os saduceus que a negavam. A eles o Mestre respondeu, denunciado o fato de que por trás da falta de fé na ressurreição, escondia-se também a ignorância sobre as Escrituras Sagradas (cf. Mc 12,24; 12,27). O fato que mais chocou os ouvintes do Senhor é que Ele associava a ressurreição dos mortos à sua própria pessoa. Em outras palavras, não haveria vida eterna desvinculada da relação com Ele e com Sua obra redentora.   

O que é ressuscitar? Na morte, separação da alma e do corpo, o corpo do homem cai na corrupção, enquanto a sua alma vai ao encontro de Deus, embora ficando à espera de se reunir ao seu corpo glorificado. Deus, na sua onipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos, unindo-os às nossas almas pela virtude da ressurreição de Jesus. Quem ressuscitará? Todos os homens que tiverem morrido: ‘Os que tiverem praticado o bem, para uma ressurreição de vida e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de condenação’ (Jo 5,29). Como? Cristo ressuscitou com o seu próprio corpo: ‘Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo’ (Lc 24,39); mas não regressou a uma vida terrena. De igual modo, n’Ele ‘todos ressuscitarão com o seu próprio corpo, com o corpo que agora têm», mas esse corpo será ‘transformado em corpo glorioso’ em ‘corpo espiritual’ (1Cor 15,44)” (CIC 997 a 999).

Morrer com Ele, para viver com Ele

Não devem haver jamais reducionismos na relação com Cristo e na vivência do Evangelho. O apóstolo Paulo, em uma de suas últimas cartas, declarou: “Se a minha firmeza continuar total, como sempre, então Cristo vai ser glorificado no meu corpo, seja pela minha vida, seja pela minha morte. Pois para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,20b-21). Alegria ou dor, morte ou vida, perda ou ganho, elogios ou crítica, nada deve ser excluído da relação com Deus. 

Para ressuscitar com Cristo, temos de morrer com Cristo, temos ‘de nos exilar do corpo para habitarmos junto do Senhor’ (2 Cor 5,8). Nesta ‘partida’ que é a morte, a alma é separada do corpo. Voltará a juntar sê-lhe no dia da ressurreição dos mortos” (CIC 1005).  

A fé é rica dessa capacidade de proporcionar sentido e razão de viver. Por isso nunca podemos nos cansar de buscá-la, vivê-la e anunciá-la aos outros.  ‘É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto.’ Em certo sentido, a morte corporal é natural; mas para a fé ela é na realidade ‘salário do pecado’ (Rm 6,23). E, para os que morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte do Senhor, a fim de poder participar também de sua Ressurreição” (CIC 1006). 

Não foram poucos, já no tempo de Cristo, e depois nas ações dos apóstolos, que se perguntaram sobre a razão de ser da morte. A doutrina da Igreja foi amadurecendo sobre a compreensão dessa questão: 

A morte é o termo da vida terrestre. Nossas vidas são medidas pelo tempo, ao longo do qual passamos por mudanças, envelhecemos e, como acontece com todos os seres vivos da terra, a morte aparece como o fim normal da vida. Este aspecto da morte marca nossas vidas com um caráter de urgência: a lembrança de nossa mortalidade serve também para recordar-nos de que temos um tempo limitado para realizar nossa vida: Lembra-te de teu Criador nos dias de tua mocidade (…) antes que o pó volte à terra donde veio, e o sopro volte a Deus, que o concedeu (Ecl 12,1.7)” CIC 1007) 

Para os que acreditam em Deus e abraçaram a obra redentora de Cristo, a morte é consequência do pecado (cf. CIC 1008). Ela tem o seu sentido e natureza transformada e restaurada em Cristo (cf. CIC 1009). Jesus restaura a humanidade e purifica o sentido de tudo o que toca o “ser pessoa”.

Mesmo a morte é ressignificada na obra redentora do Messias: “Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. ‘Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro’ (Fl 1,21). ‘Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos’ (2Tm 1,11). A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está sacramentalmente ‘morto com Cristo’, para Viver de uma vida nova; e, se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma este ‘morrer com Cristo’ e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu ato redentor” (CIC 1010). 

A morte, para os que creem em Deus, não deve ser algo desesperador. Embora em boa medida, desconfortável, ela é a consumação de um chamado, correspondido na vida e na história do fiel. “Na morte, Deus chama o homem a si” (CIC 1011). O conceito que nós, cristãos, temos desse inevitável acontecimento, tem significativas expressões na liturgia da própria Igreja (cf. CIC 1012 a 1014). Liturgia é antecipação, como sabemos. Mas a liturgia é também preparação. 

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