No Pé do Cristo, o pobre nos revela o céu

1. Deus nos precede Estamos às portas do Dia Mundial dos Pobres. Na última sexta, 14, estive na Catedral com meus irmãos da Comunidade de Vida, e neste domingo, 16, estaremos novamente ali, unidos à Arquidiocese do Rio de Janeiro e ao Cardeal, para concluir este tempo de graça. Mas, antes de qualquer gesto nosso, percebo que Deus sempre chega primeiro. Ele prepara o coração, abre caminhos, desperta a sensibilidade. Hoje, no Shalom Catete, vi isso de maneira muito concreta. A ação que realizamos não nasceu de uma estratégia humana e nem brotou primeiro das nossas mãos. Nasceu do coração de Deus, que é o primeiro a amar e o primeiro a nos fazer amar. 2. O encontro que transforma o olhar Saímos pelas ruas do Largo do Machado para convidar nossos irmãos em situação de rua. Encontramos homens dormindo, jovens destruídos pelas drogas, pessoas deitadas sem forças nem para erguer o rosto. Outros, mesmo feridos, ainda conservavam humor e faziam piada do próprio sofrimento. Tocamos realidades profundas. Mas algo muito simples acontecia quando nos aproximávamos: “Estamos tendo uma ação no Shalom do Catete. Quer ir com a gente?” A mudança era imediata. Um olhar que se acendia. Um sorriso tímido. E a pergunta sincera que se repetia: “Irmão, lá vai ter corte de cabelo?” Ali o Evangelho se revelava: a dignidade pode ser ferida, mas nunca se apaga. Como lembra Papa Leão, os pobres “nos fazem tocar com as mãos a verdade do Evangelho”. Hoje toquei na verdade que somos dono todos filhos de Deus e nisso habita nossa dignidade mais profunda. 3. Deus visita o Seu povo Voltamos ao Centro de Evangelização e, aos poucos, eles começaram a chegar. Alguns vinham até mim, agradecidos pelo convite. Um deles, enquanto caminhávamos juntos, brincou: “Vou chegar contigo porque assim eu chego forte, vão me dar moral lá!” Eu ri e respondi: “A gente só saiu de casa pra dar moral pra vocês hoje. Você acredita nisso?.” Ele agradeceu. Mas, dentro de mim, era eu quem agradecia. Aquele encontro não era obra nossa. Era visita de Deus ao Seu povo. Rezamos juntos. Escutei histórias duras de abandono, violência, solidão, feridas, drogas. Mas também encontrei gratidão e uma sede enorme de recomeço. Ali, o Senhor me recordava algo que a Vocação Shalom sempre nos ensina: o pobre permanece nas mãos de Deus — e é por isso que não perde a esperança. 4. O pedido que revela esperança Um dos jovens que convidei nos procurou no fim da tarde. Com simplicidade e coragem, pediu ajuda para se internar e sair da dependência química. Fui com ele até uma comunidade terapêutica na Baixada. No caminho, conversamos. Dei palavras de ânimo. Disse que Deus pode tudo. E, ouvindo aquele pedido de recomeço, percebi o meu próprio. Deus não desistiu dele. E também não desiste de mim. No coração, reacendeu-se um desejo novo de santidade e de amar ainda mais profundamente. 5. A graça que nos escolhe Tenho devoção a São Francisco. Ele não amava os pobres por romantismo, mas porque neles encontrou Cristo. Esse mesmo mistério toca a Comunidade Shalom desde o início. O Shalom Amigo dos Pobres não é um serviço, nem um evento, nem uma atividade. É parte da nossa vocação. E, hoje, mais do que servir, eu me deixei evangelizar. 6. A alegria que permanece Voltei para casa diferente. Mais simples. Mais consciente. Mais grato. Porque é verdade: há mais alegria em dar do que em receber. E essa alegria permanece, porque nasce do encontro com Cristo vivo. Pobre entre os pobres. Emanuell Barroso Comunidade de Vida Missão Rio de Janeiro  

João Edson visita missão do Rio e destaca a evangelização nos setores produtivos

Shalom Rio acolheu com alegria a visita de João Édson, que atualmente serve no Governo Geral da Comunidade Católica Shalom, na Diaconia, em Aquiraz (CE). O objetivo foi acompanhar de perto a realidade dos setores produtivos da missão, que vão além do aspecto econômico e se tornam verdadeiros espaços de evangelização, comunhão e criatividade.

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