A maioria das pessoas reclama que não tem tempo para ler, correto? Eu mesma tenho que me virar, em meio à movimentada rotina da Comunidade de Vida, para encontrar um pouco de tempo para me dedicar à literatura (tanto para ler, quanto para estudar sobre ou, de fato, para escrever). Todavia, posso assegurar: é possível manter um ritmo de leitura diária, mesmo que seja por alguns minutos.
Entretanto, nos últimos dias, devido à pandemia que estamos enfrentando e que, se Deus quiser, logo vai passar, parece que uma boa fatia da população está com um certo tempo sobrando e que pode ser empregado em muitas atividades bacanas e que poderiam estar esquecidas em meio ao ritmo de vida pesado que muita gente leva.
A primeira delas, sem dúvida, é a oração. Dedicar mais tempo a Deus é fundamental para bem viver estes dias. Depois, há uma infinidade de entretenimentos para além dos streamings de filmes e séries: aprender a cozinhar, passar mais tempo com a família, ressuscitar os jogos de tabuleiro, fazer aquela faxina nos armários e, é claro, dedicar-se à leitura de bons livros.
A dica da semana é o livro O Duplo
Assim, no Bendita Leitura desta semana, segue uma dica de leitura agradável e que poderá, quem sabe, ser o pontapé inicial para começar um novo e mais constante relacionamento com os bons livros. A dica da semana é o livro O Duplo, de Fiódor Dostoiévski. Este autor parece ser o campeão de indicações de leitura nesta coluna. Com a dica de hoje, já são três ou quatro livros deste escritor comentados aqui. E outros virão, com certeza, pois sua qualidade literária pede que toda a sua obra receba o devido destaque.
O Duplo trata-se do segundo livro publicado por Dostoiévski, em 1846, somente duas semanas após sua estreia, com o livro Gente Pobre. O livro foi como que o laboratório de experimentos do autor, que desenvolveu grande parte de sua obra no mesmo rumo que esta trama: a duplicidade e os desdobramentos da personalidade humana.
Mas vamos ao que mais importa, a resenha
O livro conta a história de Golyádkin, um modesto e atrapalhado funcionário público da cidade de São Petersburgo do século XIX, que, de tanta solidão, passa a desenvolver uma certa mania de perseguição e vitimismo tão acentuados, que acabam por desembocar em uma dupla personalidade, imaginando o seu duplo como um homem bem mais extrovertido e aceito socialmente que ele.
Assim, o autor desenvolve sua trama a partir dos relacionamentos que Golyádkin mantém com seu chefe, seu criado e com outros personagens do círculo social no qual ele almeja adentrar. Logo, a trama começa a girar em torno dos esforços do nosso herói, como Dostoievski chama o personagem principal, para desmascarar Golyádkin Segundo, o seu duplo, como um farsante que vem tentando tomar o seu lugar no mundo.
Em dado momento da narrativa, não há mais como saber o que é real ou o que é fruto da imaginação atordoada de Golyádkin. É exatamente aí que o livro se torna ainda mais interessante.
Enfim, termino afirmando que é uma história que vale a pena. Um clássico, que deveria ser indicado como a primeira opção de leitura para quem quer mergulhar no mundo imaginário deste autor, pois, após ler O Duplo, é possível compreender muito mais detalhes do restante de suas obras, inclusive, dos seus títulos mais conhecidos, como Crime e Castigo ou Os irmãos Karamazov.
Ficha de Leitura
Capa comum: 256 páginas
Editora: Editora 34; Edição: 2 (1 de janeiro de 2013)
Idioma: Português
Boa leitura!