Charles de Foucauld foi, de modo inegável, um filho exemplar de Nossa Senhora. Tem ele belíssimas passagens a propósito de nossa Santa Mãe. No presente artigo, transcrevemos duas delas. Vale a pena lê-las com atenção.
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Na primeira – verdadeira oração de entrega –, Foucauld bem demonstra que não é possível ser irmão de Jesus, Nosso Senhor, sem ser, antes, filho de Nossa Senhora. Eis sua prece: “Santíssima Virgem, eu me entrego a vós, Mãe da Sagrada Família. Fazei que eu leve a vida da divina família de Nazaré. Fazei que eu seja vosso digno filho, digno filho de São José, verdadeiro irmão mais novo de Nosso Senhor Jesus. Ponho minha alma em vossas mãos, eu vos dou tudo aquilo que sou, a fim de que façais de mim o que mais agradar a Jesus. Se eu tiver que tomar alguma resolução especial, fazei que eu a tome. Acolhei-me. Só uma coisa quero: ser e fazer a todo instante o que mais agrade a Jesus. Eu vos dou e a vós confio, bem-amada Mãe, minha vida e minha morte” (Antoine Chatelard. Charles de Foucauld: o caminho rumo a Tamanrasset. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 237).
Eis aí teu filho
Na segunda, ao meditar sobre o Evangelho de São João 19,26-27, nosso eremita escreve sobre a Mãe: “(…) ‘Eis aí o seu filho’. Essas palavras se dirigem à santíssima Virgem. Nosso Senhor lhe confia todos os seres humanos como filhos, mandando que ela tenha coração de mãe para com todos… Ela cumpriu, e na eternidade continuará cumprindo, com perfeição incomparável, essa ordem de Deus, como a todas as outras ordens. Estamos, portanto, absolutamente certos de que ela tem coração materno para com todos os seres humanos. E nos dirigimos a essa Mãe dileta e tão poderosa em todas as nossas necessidades, com tanta confiança quanto é grande a confiança que uma criança tem na própria mãe. E nos dirigimos a esta mãe que ama infinitamente mais do que possa amar qualquer mãe terrena, a esta mãe que pode alcançar de Deus absolutamente tudo o que é verdadeiramente útil para nossa alma…”.
Eis ai tua mãe
Sobre nós, os filhos diz: “‘Eis aí a sua mãe’. Essas palavras se dirigem a cada alma. Todos nós que devemos tratar a santíssima Virgem como nossa mãe, cumprir para com ela os deveres que o bom filho tem para com sua mãe: afeto, honra, serviço, confiança, numa palavra, tudo o que Nosso Senhor mesmo tributava à santíssima Virgem. Vamos ter por ela amor, vamos honrá-la, fazendo-lhe uma coroa, entretendo-nos com ela na oração, prestando serviço a ela, colaborando, da melhor maneira que nos for possível, com todas as obras que ela nos concede fazer, com todas aquelas que são assumidas em sua honra.
Tenhamos nela confiança absoluta, e a invoquemos, sem hesitar, com toda essa confiança, em todas as nossas necessidades, em todos os nossos desejos, em todas as nossas ações. Em poucas palavras, façamos por ela tudo o que fazia Nosso Senhor quando estava neste mundo, na medida em que nos for possível. Demonstremos a ela que somos filhos muito ternos, lembrando-nos de que este é o ponto essencial da obediência a Jesus e da imitação de Jesus. Sim, da obediência, pois é ele quem assim nos ordena, de maneira tão clara e tão solene, do alto da cruz. Sim, da imitação, porque ele foi sempre, para com sua mãe, o modelo de todos os filhos… (É evidente, por outro lado, que nós, aspirando a ser irmãos de Jesus, tais não podemos tornar-nos, se não nos mostrarmos verdadeiramente filhos de Maria. Para sermos irmãos de Jesus, é absolutamente necessário que sejamos filhos de Maria.)” (Meditações sobre a Paixão do Senhor. São Paulo: Paulus, 2016, p. 62-63).
Eis como podemos entender o apreço de Foucauld para com o Rosário (a coroa de rosas por nós oferecida à Santíssima Virgem), o Angelus (a saudação mariana repetida três vezes ao dia, às 6, 12 e 18 horas) e as festas marianas ao longo do ano litúrgico.
Que Nosso Senhor, por intercessão de Sua Mãe, nos faça ardorosos imitadores do eremita do Saara na devoção à Virgem Maria. Amém!
Charles de Foucauld
Antes de se tornar “irmão Carlos de Jesus”, o jovem Charles, nascido em Estrasburgo, iniciou uma carreira militar, seguindo os passos de seu avô que o havia criado quando ficou órfão de seus pais aos 6 anos. O beato deixou a fé de lado durante sua adolescência, mas durante uma perigosa exploração no Marrocos, em 1883-1884, despertou nele uma pergunta: “Deus existe?” “Meu Deus, se você existe, deixe-me conhecê-lo”, foi seu pedido, que já assumiu as características daquela oração incessante que marcou toda sua vida. Voltando à França, Foucauld partiu em busca e pediu a um sacerdote para instruí-lo.
Depois foi em peregrinação à Terra Santa e lá, nos lugares da vida de Cristo, encontrou sua vocação: consagrar-se totalmente a Deus, imitando Jesus numa vida escondida e silenciosa. Ordenado sacerdote aos 43 anos (1901), Charles de Foucauld foi para o deserto argelino do Saara, primeiro para Beni Abbès, pobre entre os mais pobres, depois mais ao sul para Tamanrasset com os Tuareg do Hoggar. Viveu uma vida de oração, meditando continuamente a Sagrada Escritura, no desejo incessante de ser para cada pessoa o “irmão universal”. Morreu aos 58 anos na noite de 1º de dezembro de 1916, assassinado por um bando de saqueadores de passagem. Bento XVI o beatificou em 2005. E no dia 15 de maio foi a canonização juntamente com outros seis beatos, pelo Papa Francisco, no Vaticano.