Era tarde da noite e coloquei o despertador para acordar cedo no outro dia, mas não tocara ainda o alarme, o sol escondia-se por trás dos picos rochosos e eu desperto sem entender muito porquê. Isto era no mínimo estranho, logo despertar e não ter aquelas sensações quase diárias de vou dormir mais um pouco.
Algo dizia ser preciso levantar sem demora e logo escutei dentro de mim que precisava correr para aquele jardim. Quanta saudade eu estava dele, mas não tinha muitas oportunidades de voltar lá com tempo para desfrutar de tudo.
Assim que cheguei, estava aquele deserto, quando vi que o jardineiro se aproximava silenciosamente. Ao perceber que o vi aproximar-se, falou em voz alta:
– Estava mesmo te esperando aqui hoje! – E o jardineiro sorrindo descontraído, continuou – Ah, mas não vá pensar que fui eu que te acordei a essa hora, hein?
(Era claro ali que, de alguma forma, foi ele a me despertar. Mas… como provar?)
Após me abraçar cheio de saudades, nos sentamos no banco em frente a uma rosa azul e disse:
– Veja! A flor da Santidade!
– Que bela flor e quão diferente das outras, tem um particular odor, mas forte do que daquelas rosas da roseira Amor.
Era perceptível ao meu olfato que na essência da santidade tivesse também o odor puro da rosa Castidade. Então eu, olhando para os lados, disse:
– Não estou vendo muita gente por aqui. Como é possível algo tão belo e puro estar abandonado? Por acaso isto não é capaz de atrair a este nível?
– Calma, jovem! Eu te entendo! Mas o problema é que muitos olham para a flor da santidade e não focam na beleza, mas nos espinhos. Hoje não estão aqui porque preferiram evitar a dor dos espinhos das roseiras que exalam perfumes agradáveis e acabaram feridos pelos espinhos dos galhos secos dos prazeres instantâneos e vazios.
Depois desta resposta, fiquei ali parado com um único desejo: permanecer sempre com os olhos fixos na beleza da Santidade e deixar que aqueles espinhos pudessem me ferir com o único intuito de trazer em meu corpo as feridas dos espinhos da santidade. Existem muitos espinhos escondidos atrás das rosas, tornando inevitável se ferir. Concluo então que seria mais feliz em me ferir nos espinhos da flor da santidade do que deixar-me enganar pelas belas rosas que não exalam o agradável odor forte da Castidade.
Matheus Araújo