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Irmã Maria Elizabeth da Trindade, OCD – Carmelo de Passos-MG
Em nossa vida, constantemente precisamos tomar decisões: sevamos a um passeio ou à Missa, se permanecemos neste emprego ou buscamos outro,se usamos esta ou aquela roupa etc. Desde as mínimas coisas até grandesdecisões, como a resposta a determinada vocação, em tudo devemos nosposicionar, fazer uma ‘cisão’, uma quebra, um rompimento com algo para assumiroutro.
A Santíssima Trindade, por ser uma comunidade de amor, viveem perfeita harmonia nas decisões tomadas e assumidas. O Pai, com o EspíritoSanto, decidiu enviar o Filho. O Filho, naquele momento ‘sem momento’, decidiuse apresentar ao Pai dizendo o “eis-me aqui, envia-me”, e sua aceitação levou-oaté o “sim” da cruz e o “sim” que se perpetua na Eucaristia em todos os tempos.Jesus tomou decisões e nos ensina a fazê-lo. O Filho, junto com o Pai, decidiuenviar o Espírito Santo para nos santificar. A Palavra de Deus já nos alerta:“Que o vosso sim seja sim e o vosso não seja não”, “porque se não és frio nemquente vou vomitar-te”. Assim, o cristão se torna alguém que sabe o que quer ebusca ser conseqüente com o que assume.
O amor, eixo em torno do qual gira toda a vida humana ecristã, também é questão de decisão. Sou eu que escolho se quero ou não amar, aquem quero amar e como será o meu amor.
Às vezes, no atendimento às pessoas que batem à porta donosso mosteiro pedindo orações ou conselhos, fico comovida ao escutar históriasverdadeiramente dramáticas, mas onde percebo, no meio de tanto sofrimento eingratidão a dedicação e um amor total e incondicional de alguma pessoa.
Quantas esposas que acolhem e aceitam seus esposos ingratos, alcoólatras,infiéis, agressivos e os amam a ponto de conseguirem de Deus sua conversão elibertação! Por outro lado, também quantos esposos abandonados, traídos ehumilhados por suas esposas, mas que continuam fiéis a um “sim” pronunciado umdia! Quantos pais que insistem em amar seu filho que só traz desgosto esofrimento!… E cobrem tudo com o amor, defendendo a pessoa amada com “unhas edentes”. São pessoas que simplesmente decidiram amar. E muitos milagresacontecem como conseqüência deste amor.
Quando amo devo agir com a consciência de estar fazendo umaopção de vida. Não estou vivendo um sentimento que irá trazer-me apenas prazerou alegria. Irei assumir toda a pessoa, com seus limites, seus defeitos, suasquedas, seus fracassos, mas também suas vitórias e triunfos. Aliás, é na horada desgraça que se prova o verdadeiro amor.
Penso que muitos relacionamentos – inclusive no matrimônio –não se aprofundam nem perseveram por falta desta decisão de amar até o fim,para além dos sentimentos. Deus nos ama assim. Ele é fiel porque se decidiu aestar conosco sempre e nos ama em todo tempo, “na alegria e na tristeza, nasaúde e na doença”, sempre! Quando Jesus decidiu ser amor entre nós, assumindonossa humanidade e nos ensinando a ser humanos, todas as conseqüências foramassumidas juntamente, inclusive a cruz e a morte. “Amar é dar a vida”, e dar avida não é sentimento, é ato de decisão.
Quando amo alguém estou vivendo estemistério que Jesus vive na Eucaristia a cada momento. Ele está ali, no sacrárioe em quem o recebe, independentemente da forma como é acolhido e venerado. É omesmo para aquele que o ama intensamente como para aquele que o recebe comindiferença, em pecado ou para aquele que nem o quer receber. Ele continua omesmo Amor que se dá na pura gratuidade. E este amor gratuito é que nosconstrange a pagar amor com amor e a mudar nossas vidas.
Santa Teresa de Ávila, em seu livro Castelo Interior ouMoradas, descrevendo o itinerário espiritual da pessoa que se entrega à oração,diz várias vezes como se sentia pequena e como que ‘esmagada’ diante de tudoque Deus lhe fazia, de todas as graças que recebia do Senhor. Amor gera amor,dizia ela em outro lugar e era firme na formação das carmelitas descalças paraserem pessoas decididas, pessoas de “determinada determinação”, na linguagemteresiana. Quando a pessoa que Deus coloca em nossa vida para que a amemos nãonos agrada, quando temos de enfrentar lutas de nossa natureza, quando o outrose torna um peso, ou ele tem “o dom de desagradar-me em tudo” – na expressão deSanta Teresinha – então sim, estarei diante de uma excelente oportunidade paraviver o verdadeiro amor, o amor gratuito que Jesus me pede e ensina.
Seja nosso amor para com cada pessoa este ato de decisão quenos leve a perseverar até o fim, ou seja, até a consumação de nossa vida nocéu, onde tudo será amor, pois “na tarde da vida seremos julgados pelo amor”(São João da Cruz).