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Entrevista: Andréia Gripp apresenta desafios e oportunidades da evangelização no meio digital

Jornalista e teóloga, Andréia tem se dedicado ao estudo sobre a evangelização através da redes sociais. Em entrevista, ela apresenta dicas concretas de como anunciar o evangelho no ambiente digital.

comshalom

A internet é um grande campo de missão, resume a consagrada da Comunidade Católica Shalom Andréia Gripp (@andreiagripp). Jornalista e teóloga, Andréia tem se dedicado ao estudo sobre a evangelização nos meios digitais. Sua tese de doutorado intitulada “Infopastoral: diálogo entre fé e cultura” apresenta um estudo sobre os desafios e oportunidades da evangelização no meio digital.

Em entrevista ao comshalom, Andreia conta sobre as descobertas do estudo e dá dicas de como evangelizar nas redes sociais. “O ambiente digital oferece à Igreja uma oportunidade nunca antes vista na história: poder anunciar o evangelho a todo o mundo, literalmente”.

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Comshalom: O que te motivou esse estudo?
Andréia Gripp: Sou jornalista de profissão e por muitos anos atuei na Arquidiocese do Rio de Janeiro como coordenadora de jornalismo. Também atuei como coordenadora da Pastoral da Comunicação no Regional da CNBB que reúne todas as dioceses do estado do Rio de Janeiro. Aliado a isso, o carisma Shalom me ensinou que devemos anunciar a Jesus Cristo em todos os ambientes em que estivermos, porque a evangelização do mundo é uma urgência, por amor ao ser humano, que só se plenifica em sua relação com Deus, através de um encontro pessoal com Jesus Cristo.

Comshalom: É preciso se tornar um influencer para ser evangelizador nas redes sociais?
Andréia Gripp: Para evangelizar não precisa ser um influencer, de forma nenhuma. Todo batizado, como disse antes, pode e deve evangelizar em suas redes. Até mesmo a foto de um almoço pode evangelizar, desde que você passe um sentido de vida cristã para aquele momento. O importante é que suas redes sociais reflitam a sua experiência de vida e amor a Deus, e, claro, que seja autêntica e não uma aparência de vida cristã. As pessoas estão sedentas de testemunhos e não de “doutores” que ditam regras e comportamentos.

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Comshalom: O que precisa um influencer para ser evangelizador?
Andréia Gripp: Precisa ter um amor a Jesus Cristo maior do que a si mesmo. Ter a consciência de que somos apenas um canal, não somos a finalidade. O verdadeiro influencer católico é aquele que pode sair de cena a qualquer momento, sem que isso faça diferença na vida das pessoas, porque ele levou as pessoas à maturidade humana e espiritual, que nasce de uma experiência real com Jesus. O grande perigo para um influencer está no individualismo e o narcisismo, tão próprios dessa cultura digital. Se ele cair nessa tentação, todo o seu trabalho é em vão. Não terá feito nada de novo. “Que fazeis de extraordinário? Não o fazem, também os pagãos?” (Mt 5, 47). O modelo do influencer católico precisa ser o Cristo. Ou se é assim, ou não se é evangelizador.

 

 
 
 
 
 
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Comshalom: Que dicas você dá para quem deseja evangelizar pelas redes sociais?
Andréia Gripp: Privilegie o testemunho e a coerência de vida. Imagem de santo, com uma simples descrição histórica do santo não evangeliza ninguém, por exemplo. Mas se você conta um testemunho de vida desse santo que o aproxime das pessoas, que mostre que ele/ela como todas as pessoas, viveu os desafios de seu tempo, dando uma resposta de vida coerente com o Evangelho, aí você desperta a atenção e, consequentemente, evangeliza. Imagem de crucifixo sem uma referência testemunhal é só uma imagem dentre tantas outras que as pessoas veem em seu feed. Para evangelizar você precisa tocar na vida das pessoas. Também mensagens com doutrina e código de direito canônico não evangeliza ninguém. Você, no máximo, estará falando com um outro católico já evangelizado. Então, entenda: evangelize de forma simples, através do diálogo com a sua rede, de coração a coração. Quer postar uma foto do pôr do sol? Legal. Posta. Mas dê sentido a ela. Mostre porque ela te toca tanto. Quer postar foto do crucifixo, do Santíssimo? Posta, mas descreva o que ela significa para a sua vida. Quer postar foto de comida? Ok, pode também. Mas, por favor, não faça comentários frívolos. Você talvez só tenha aquela chance para dizer a uma pessoa que visita a sua rede social o quanto ela é amada por Deus.

Comshalom: Diante do que você tem estudado, como você enxerga os desafios do ambiente digital para a evangelização? 
Andréia Gripp: O ambiente digital oferece inúmeros desafios e oportunidades para a evangelização. Os desafios estão na ordem cultural, especialmente, que incidem sobre o comportamental e a formação de mentalidades. As tecnologias da comunicação, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não são neutras. Elas interferem na percepção da realidade, da sociedade e do indivíduo e criam uma nova cultura, definindo cultura neste caso como o sociólogo Manuel Castells: uma nova forma de ser e de pensar, que influenciam na percepção da realidade e na produção e difusão do conhecimento e da informação. Isto incide sobre a forma como os indivíduos se relacionam em seu meio social. A cultura que nasce hoje da interação dos indivíduos com e no ambiente digital tem como base a troca de informações e por isso mais poderosamente modelam o nosso modo de pensar, de sentir, de agir em sociedade: determinam aquilo que se é na verdade. Vivemos numa sociedade em rede, em que cada ponto é um produtor de conhecimento. Cada indivíduo pode produzir o seu próprio conteúdo, escolher o que consumir, modificar o que se recebe, independente de ter ou não conhecimento intelectual sobre um assunto. Isso gera uma infodemia e a perda dos referenciais que até hoje regiam o nosso modo de viver em sociedade. As autoridades não são mais determinadas pelas instituições, mas sim pela audiência, formada por pessoas que pautam suas escolhas pelos gostos e interesses pessoais e não coletivos. Assim, sobressai como característica marcante dessa nova cultura o narcisismo e o individualismo, em detrimento do bem comum.

Comshalom: E as oportunidades da evangelização no meio digital?
Andréia Gripp: O cenário, que é bem mais complexo do que eu disse anteriormente, não é de todo negativo. O ambiente digital é uma grande terra de missão e oferece à Igreja uma oportunidade nunca antes vista na história: poder anunciar o evangelho a todo o mundo, literalmente. A internet é uma grande arena pública, na qual não podemos, enquanto Igreja, estar de fora. A articulação da religião é hoje global, sem fronteiras e sem território, sem os limites de tempo e espaço. A sede de Deus do ser humano não mudou e hoje há uma multidão de interlocutores abertos ao anúncio. Porém, esse anúncio se faz de forma diferenciada de outrora. Não é mais um anúncio institucional: é pessoa a pessoa, rede a rede. Com isso cresce a responsabilidade pessoal de cada batizado. Cada um de nós é um ponto da rede a produzir conteúdo e a possibilitar o acesso dos indivíduos a uma experiência com Deus. O povo de Deus é um povo comunicador e deve exercer o seu mandato missionário na rede digital. Estar no ambiente digital é missão, não é escolha estratégica, não é gosto individual: é resposta ao mandato missionário de Cristo. Evangelizar é comunicar, em todos os ambientes, em todas as linguagens, em todos os tempos.


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