Originalmente criado para combater os excessos alimentares e como alerta para as ameaças à saúde, o dia da gula, comemorado em 26 de janeiro, pode ser visto como uma oportunidade para trazer mais sobriedade às refeições e consequentemente uma melhor saúde física e espiritual.
A gula sob o olhar da fé
O ato de comer em excesso está entre os sete pecados capitais juntamente com a ira, preguiça, orgulho, avareza, inveja e luxúria e, portanto, responsáveis por reproduzir outros pecados.
Diz o Catecismo da Igreja Católica no número 1865:
O pecado arrasta ao pecado; gera o vício, pela repetição dos mesmos atos. Daí resultam as inclinações perversas, que obscurecem a consciência e corrompem a apreciação concreta do bem e do mal. Assim, o pecado tende a reproduzir-se e reforçar-se…
A gula sendo um pecado capital requer confissão, pois retira o homem do estado de graça.
O Papa Francisco na audiência sobre os vícios e virtudes pronunciou sobre a gula:
“A alimentação é a manifestação de algo interior: a predisposição para o equilíbrio, ou para o exagero; a capacidade de dar graças, ou a arrogante pretensão de autonomia; a empatia de quem sabe partilhar a comida com os necessitados, ou o egoísmo de quem acumula tudo para si. Esta questão é muito importante: diz-me como comes e dir-te-ei que alma tens. No modo de comer revela-se a nossa interioridade, os nossos hábitos, as nossas atitudes psíquicas.”
Santa Catarina de Sena chegou a afirmar “Uma barriga cheia prejudica a mente”.
Santo Agostinho reforça a importância de cuidar do corpo, mente e espírito por meio do que é ingerido e da forma como se come ordenando “Aprenda a ingerir os alimentos como se fossem remédios”.
Comer em excesso, conheça as consequências
Todo mau hábito gera consequências para quem o pratica. E com a Gula não é diferente.
O ato de comer precisa ser iluminado pela razão para que o homem não seja dominado pela tentação do prazer.
O Evangelista Lucas exorta: “Cuidado para que vossos corações não fiquem pesados pela devassidão, embriaguez e pelas preocupações da vida” (21,34).
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A gula quando se torna um vício, retira Deus do centro fazendo com que vários maus hábitos comprometam a dignidade da pessoa e muitas das virtudes adquiridas.
São João Clímaco em a “Santa Escada” apresenta a luxúria, a cegueira espiritual e a dureza de coração como os “filhos” da gula. E completa falando de outras filhas, como consequência do comer em excesso:
“a preguiça, o palavrório, a confiança em si mesmo, as gozações, as risadas sem sentido, a porfia, a dureza de cerviz, o enfado da palavra de Deus, a insensibilidade para as coisas espirituais, o inchaço da soberba, a ousadia, a afeição às coisas do mundo, e as despesas e gastos excessivos e suntuosos. A todas estas coisas sucedem a oração impura e o desespero.”
Todos esses atos retratam as consequências do egoísmo quando o homem se volta para si mesmo.
Virtude da temperança é remédio para gula
A Temperança modera os prazeres e ajuda a equilibrar a alimentação. Por essa virtude o homem exerce domínio sobre si mesmo, suas vontades e desejos.
Deus tudo criou e submeteu ao homem para que administrasse e fizesse bom uso. Os alimentos são necessários para o corpo e relacionar-se com eles de forma saudável também é um exercício.
Assim como a gula é uma atitude interior que transborda, a temperança modera-a também de dentro para fora, confira alguns comportamentos:
- Fazer jejum;
- Recusar algo que goste;
- Alimentar-se sem saciar-se por completo;
- Fazer uma penitência comendo o que não gosta;
- Oração e sacramentos
Alguns hábitos externos:
- Evitar grandes intervalos sem se alimentar;
- Evitar ir com fome ao mercado/padaria;
- Lembrar-se que há outras pessoas para se servirem;
- Comer porções menores;
- Exercer autodomínio quando saciado;
- Guardar a visão, a audição quando o assunto é comida.
- Saborear o alimento como dom de Deus e alimentar-se como meio de agradá-lo.
Veja também :
O vício da gula e o prazer desordenado na alimentação
5 sinais de alerta da possível gula em nós
A virtude da temperança como remédio para curar o vício da gula