Eu nasci em Campos Belos – GO, mas vivi quase sempre em Palmas – TO, onde minha família vive até hoje. Lá eu dei os meus primeiros passos na Igreja, na paróquia São João Batista, recebi a primeira Eucaristia e o Crisma, lá eu conheci a Comunidade Católica Shalom e tive uma forte experiência com o amor de Deus.
A resposta para o nosso estado de vida está na missão! De que a sua missão precisa?
Mãe, eu vou ser padre!
Em 2003 – ano dedicado às vocações – em um encontro PHN da Comunidade Canção Nova ouvi a voz de Deus a me chamar: “vem me seguir”. Quando eu cheguei em casa, impulsivamente e sem pensar direito, a primeira coisa que eu disse quando minha mãe abriu a porta foi: “mãe, eu vou ser padre!” – foi uma confusão lá em casa, rs…
Com o passar dos dias fui chegando à conclusão que eu não sabia ainda a quê Deus me chamava, nem como, Ele não tinha me falado ainda. Só sabia que Deus tinha me escolhido para alguma coisa. E como “ser padre” era a forma mais comum que eu conhecia de seguir Jesus, foi essa a expressão que eu usei. Eu não sabia, mas naquela expressão dita espontaneamente e sem pensar já estava contida a vontade de Deus para minha vida que, na pedagogia divina, deveria se manifestar mais tarde.
Em agosto do mesmo ano – mês vocacional – eu participei de um encontro de despertar vocacional na Casa de Maria, em Palmas, que contava com a presença de cinco Novas Comunidades: Canção Nova, Doce Mãe de Deus, Obra de Maria, Shalom e Toca de Assis. Após o encontro, em um momento em que eu fiquei sozinho sentado na calçada da Paróquia São José, comecei a conversar com Deus.
Deus me chamava a ser Shalom
Eu dizia que se fosse para eu escolher, eu escolheria a Obra de Maria ou a Toca de Assis (depois Deus me fez ver as falsas motivações que eu tinha quanto a essas possíveis escolhas), mas que eu queria que Deus escolhesse. Então, passou um filme em minha cabeça, aparecia todos os contatos que eu tive com as diversas expressões da Igreja. Vi os Franciscanos, os Orionitas, o Neo Catecumenato, as várias Novas Comunidades… e eu estava sempre muito empolgado com todas as expressões, menos com o Shalom.
Então, começou outro filme, e fui vendo que eu já estava dentro do Shalom sem perceber. Que Deus tinha levado a comunidade para a minha quadra, que eu estava fazendo FB, que eu ia abrir o Centro de Evangelização nas sextas quando os irmãos da Comunidade de Vida estavam na Koinonia.
Vi que, no encontro de despertar vocacional, quando chegou a vez do Shalom ser apresentado – e que não tinha nada pronto – eu é que fui atrás do microfone, eu que liguei o som, eu fui tocar e eu fiquei sentado lá na frente com os missionários da comunidade, e não com os participantes. Eu já estava no Shalom sem perceber!
Diante disso, em prantos, eu reconheci que Deus me chamava a ser Shalom. E eu disse: “se é esta a vontade de Deus, quero dar passos firmes em direção à ela!” Esta resposta expressa muito de meu caminho vocacional.
Pega essa semente e enterra
Logo entrei no vocacional da Comunidade, em 2005 ingressei na Comunidade de Aliança, ano em que minha mãe faleceu, e no ano seguinte fui para a Comunidade de Vida – como postulante na missão de Aparecida-SP – chegando na missão partilhei com a formadora comunitária sobre uma inclinação em relação ao estado de vida do sacerdócio.
Contudo, como somos orientados a primeiro definir o carisma e depois o estado de vida, ela me disse: “pega essa semente e enterra, deixa ela enterrada, se Deus quiser, se Deus regar, se Deus cuidar, ela vai brotar, vai crescer e se tornará uma grande árvore, e dará muitos frutos”. E assim eu fiz.
No final do meu discipulado em Quixadá, em 2007, partilhei isso com o Padre Marcos da Comunidade de Aliança, dizendo que talvez fosse o tempo de desenterrar essa semente. Ao que ele me disse: “não desenterre! Se não você mata a semente, deixe-a enterrada, se Deus quiser, se Deus regar, se Deus cuidar…”
O “Benedictus” (Lc 1,68-79)
Uma passagem bíblica que sempre me acompanhou foi o “Benedictus” (Lc 1,68-79) – um hino de Lucas, que sempre cantamos nas laudes, uma oração litúrgica da manhã que diariamente rezamos na Comunidade de Vida – muitas vezes quando rezavam por mim Deus dizia: “Serás profeta do Altíssimo, ó menino” (1,76).
Em 2008 fui, como discípulo de segundo ano, para a missão de Senhor do Bonfim, trabalhar no orfanato. Foi uma experiência forte de paternidade. Até pensei em me casar e ser um bom pai. Mas ali novamente o Benedictus fez-se ouvir, e percebi que a salvação que Deus me chamava a anunciar estava na remissão dos pecados (Cf. 1,77) Deus me chamava a ser confessor!
Na época a missão era muito desassistida de sacerdotes, naquele ano só tivemos uma única missa no Shalom e era uma dificuldade para conseguir confissão. Nosso Centro de Evangelização tinha um espaço bem grande e coberto, e um palco perfeito para celebrarmos a Eucaristia. Todas as vezes que eu olhava para aquele espaço vazio, eu pensava, está falando algo, está faltando alguém, está faltando um sacerdote. Aquele espaço vazio me questionava.
Neste mesmo ano fui para o retiro dos discípulos. Lá um pregador disse que a resposta para o nosso estado de vida está na missão, “de que a sua missão precisa?” perguntava ele. Não tive dúvidas, minha missão precisa de um padre! Fiz então o retiro dos candidatos ao sacerdócio e entrei no seminário.
Ser padre e ser Shalom
Em 2009, vim morar na Diaconia e comecei a filosofia, depois fui de estágio pastoral para a missão Quixadá. Ali Deus começou a falar comigo diferente, até então Deus já tinha falado com clareza sobre o ser Shalom, o ser Comunidade de Vida, e também com a mesma clareza sobre o meu chamado ao sacerdócio.
Eu não tinha dúvidas de nenhum dos dois chamados. Mas a partir de então Deus começou a falar dessas duas realidades juntas, ao mesmo tempo. Ali se definiu uma única perspetiva de futuro para mim. Eu já não me via mais na Comunidade de Vida sem ser sacerdote e também não me via um padre fora da comunidade. Ser padre e ser Shalom – para mim – tornou-se a mesma coisa.
“Para dirigir nossos passos no caminho da paz” (1,79) este é o meu lema sacerdotal. Sou chamado a ser pastor, a dirigir e a guiar não em qualquer caminho ou lugar, mas a guiar no Caminho da Paz. Não me vejo como um pastor solitário a guiar os passos dos outros, mas a trilhar o mesmo Caminho que a comunidade, a dirigir os NOSSOS passos no caminho que Ele nos deu.
A Ele nós sirvamos sem temor em santidade
Em 2014, fui para Fortaleza e comecei o curso de Teologia, neste ano fiz minhas promessas definitivas no carisma Shalom. Aqui tudo se firmou e está se concretizado. Aqui enxerguei, no Benedictus os três múnus, os três ofícios próprios dos sacerdotes, os três motivos pelos quais Deus me chama a ser padre. Para anunciar (Cf. 1,77), para iluminar (santificar) (Cf. 1,79a), e para dirigir (1,79b). Sou chamado a ser na Igreja Mestre, Sacerdote e Pastor. Sou chamado a ser pai. Sou chamado a ser padre.
Fui ordenado diácono a um ano, e agora, dia 23 de Dezembro de 2019 estou sendo ordenado presbítero. “Bendizendo ao Senhor que a seu povo visitou” (Cf. 1,68) eu quero para sempre com a comunidade cantar: “A Ele nós sirvamos sem temor em santidade e em justiça diante dEle enquanto perdurarem nossos dias” (1,74-75).
Jonas Xavier