Sou consagrado da Comunidade de Vida Shalom há 15 anos. Tive a minha experiência com o Amor de Deus aos meus 15 anos, em uma vigília de Pentecostes promovida pela Comunidade Católica Shalom no Colégio Marista Cearense, em Fortaleza, e caminhei no Projeto Juventude para Jesus (PJJ) por dois anos (1994-1996). Depois desse tempo eu me afastei, passei oito anos distante, vivi várias experiências de pecado em festas, com bebidas e outras drogas.
“Meu Deus, a partir de hoje, não quero mais ser esse moleque, a partir de hoje eu quero ser um homem de verdade. Eu renuncio a todo este pecado que estou cometendo e digo ‘sim’ ao que você me pedir”
No dia 9 de fevereiro de 2003, quando eu já havia sido convidado pelo meu pai para retornar ao Shalom, finalmente eu voltei para Deus e para a Igreja. A minha vida estava afastada do Evangelho, da luz… eu estava “atolado” nas trevas até este dia, em que fui para a Paróquia do meu bairro (Imaculada Conceição), participei da Santa Missa e não comunguei ao final, porque estava há muitos anos sem me confessar.
Depois da Celebração Eucarística, eu fui ao Sacrário, lá me ajoelhei, me prostrei, e fiz a seguinte oração: “Meu Deus, a partir de hoje, não quero mais ser esse moleque, a partir de hoje eu quero ser um homem de verdade. Eu renuncio a todo este pecado que estou cometendo e digo ‘sim’ ao que você me pedir”. No dia seguinte eu busquei a confissão, voltei para o Shalom, recomecei no grupo de iniciantes, fiz o “Renascer” (Seminário de Vida no Espírito Santo) em 2003 e caminhei em um grupo de oração chamado “Resgatados por Jesus” com o então Antônio Furtado (que hoje é Padre). Neste mesmo ano, recebi um chamado muito grande à Comunidade de Vida Shalom e em 2004 mandei a minha carta pedindo ingresso.
Um olhar profundo para as coisas sagradas
Um fato interessante é que eu nunca pensei em ser Padre. Desde a minha adolescência, eu sempre namorei muito. No ano do meu vocacional, em um retiro, quando eu estava diante de uma gruta que tinha Nossa Senhora das Graças no CEST (Centro de Espiritualidade Santa Teresa, que pertence à Comunidade Católica Shalom), de joelhos rezando o Terço, escutei um chamado muito forte ao sacerdócio. Naquele momento, eu achava que era impossível viver o celibato e tantas outras coisas, mas acolhi no coração e sabia que se fosse realmente de Deus, ia permanecer.
Eu estava prestes a ir para o Postulantado, que na Comunidade Shalom é vivido com um Celibato Formativo temporário, para que através do silêncio, seja discernido o estado de vida. Assim eu fui em missão para São Paulo e o chamado continuou com a mesma força, com vários sinais, dentre eles a passagem bíblica de Isaías 61, que fala sobre anunciar a boa nova aos pobres, a consolação aos que choram, a levar a Palavra de Deus, a curar os corações.
As Sagradas Escrituras foram me guiando e também na mesma época, tive a oportunidade de distribuir a Eucaristia, experiência que foi forte para mim. O chamado seguiu no noviciado em Pacajus (CE), onde eu coordenava a Liturgia e tive a experiência de ter um olhar profundo para as coisas sagradas, algo que me gerou um sacerdote para a Igreja e para a humanidade.
A chegada de um tempo favorável
Após este tempo fui enviado para o Rio de Janeiro e tive muitos questionamentos em relação ao matrimônio, por isso resolvi fazer um retiro para candidatos ao seminário, no ano de 2007. Tive a grande graça de receber oração do fundador da Comunidade Católica Shalom, Moysés Azevedo, que proclamou uma palavra intitulada de “oração sacerdotal”, que fala sobre a chegada de um tempo favorável para esta missão.
Eu me emocionei porque estava resistindo à voz do Senhor, mas naquele momento ela iluminou as trevas do coração e a partir dali o fundador foi partilhando que a minha vocação ao sacerdócio nasceu junto à vocação ao carisma, por ter sido gerada no meu retiro vocacional.
Iniciei os meus estudos em filosofia, morei na Diaconia Geral, em Aquiraz (CE), lugar de muitas graças. O meu estágio pastoral, aconteceu na cidade de Itapipoca (CE), em uma casa de recuperação de dependentes químicos chamada “Bom Pastor”, onde me fui coordenador. Eu acolhi essa missão como algo esponsal e sacerdotal, pois eu não tinha outra coisa a fazer senão ofertar a minha vida pelos mais necessitados e ser o bom pastor daqueles jovens e adultos que se encontravam lá para um tratamento terapêutico contra a dependência.
Foi um tempo de muita purificação onde minha vocação foi comprovada. Ao concluir o estágio, em 2014, eu voltei para Pacajus (CE) para estudar teologia e assim terminar os meus estudos, com o povo que Deus escolheu para a vivência do Diaconato, onde me configurei ao “Cristo servidor”.
Em 21 de dezembro de 2018 fui ordenado Diácono. Agradeci muito a Deus que me escolheu mesmo sendo tão frágil, um vaso de argila, para realizar em mim grandes coisas em Seu favor. Neste ano de 2019, vivi ativamente o mistério do serviço, ministrando os sacramentos do batismo, do matrimônio, servindo à Comunidade, aos irmãos, à obra e ajudando na paróquia em Pacajus.
Agora se aproxima o tempo da ordenação presbiteral, eu acabo de sair de um retiro de preparação e acolho essa gratuidade do amor de Deus na minha vida. O meu lema sacerdotal é “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a Minha graça se manifesta” (II Coríntios 12; 9-11). Me vejo fraco, incapacitado, mas Deus sempre vem em meu auxílio, com Sua graça.
Hoje eu digo “eis-me aqui, Senhor, para te amar como Comunidade de Vida, Shalom, Sacerdote, para ser enviado onde a Igreja e a Comunidade me enviarem.
Michel Bastos