Cada criança que nasce tem uma vocação, ou seja, é chamada a desenvolver-se e realizar pessoalmente algo que somente ela poderá, na sua individualidade e com a sua personalidade, fazer. Isto consistirá em um processo através do qual, pouco a pouco deverá, à medida que cresce, se tornar consciente de sua própria dignidade, de se auto dominar e tender para o amor e a busca da verdade à qual todos somos chamados.
Deus deixa aos pais a iniciativa de terem filhos. Assim, seus filhos são também e principalmente filhos de Deus, criados à imagem e semelhança de Deus e chamados a crescer em um relacionamento de amor para com Ele. Para tanto, necessitará, na medida em que cresce, se tornar capaz de reconhecer sua origem e condição espiritual.
Precisará do apoio e ajuda de educadores. Os educadores mais próximos e primeiros responsáveis pela tarefa são seus pais. A educação é, assim, o prolongamento da missão dos pais, que geraram biologicamente, mas também precisam continuar gerando os filhos para que se tornem adultos, sem esquecer que eles são seu prolongamento, mas também seres originais, com uma alma original e um destino original.
Os pais deverão, desde cedo, tentar compreender as qualidades virtuais do filho, como também seus limites e defeitos, a fim de favorecê-lo desabrochar no que é positivo, nas qualidades profundas que estão nele, de tal maneira que possa se tornar uma pessoa capaz de se orientar na vida e realizar sua missão no mundo. Para isto deverão ser pobres no sentido de deixar o filho passar adiante de si, desenvolvendo qualidades que eles mesmos não possuem.
Assim, para educar filhos, não basta que os pais tentem fazê-los semelhantes a si, e muito menos será correto obrigá-los a dar continuidade ao que eles próprios começaram. Isto exigirá uma superação da ideia errônea de que os filhos existem para os pais, quando são os pais que existem para os filhos. Isto explica o fato de que os pais deverão sempre agir para o bem dos filhos e não para o seu próprio bem ou gozo. Isto consistirá tanto em dizer “sim”, quando lhes é penoso, como em dizer “não”, quando é mais difícil e trabalhoso fazê-lo.
Sobretudo no mundo de hoje, como educadores os pais precisam conduzir os filhos à descoberta de sua dignidade de filhos de Deus, para que, plenamente conscientes de sua tendência ao amor e à verdade, lutem para viver no amor e na verdade.
Em virtude de tudo que foi visto acima, os pais devem adquirir a virtude da prudência, em relação a si mesmos e aos filhos, desde a concepção da criança, quando precisaram gerar um clima de acolhimento, que deve acompanhar a criação da criança para acolher o amor dos pais e se devolver em amor, durante a sua vida.
Desde o início, existirão ocasiões para favorecer o desenvolvimento da autonomia e do dom de si, como o desmame, o momento de andar, o desenvolvimento da linguagem, a ida à escola e, sobretudo, a socialização, através da qual se desenvolverá o sentido de cooperação. Dentro de tais aspectos ressalta-se o papel da mãe, de gerar cooperação no interior da família, e do pai, de gerar cooperação social.
Este sentido de cooperação é que estimulará a criança, o adolescente e mesmo o adulto a dominar seus próprios impulsos egoístas em função do bem comum. Será preciso, paralelamente, desenvolver a dimensão da caridade fraterna, que virá da gratidão a Deus, que nos amou primeiro e se entregou por nós.
Dentro disto está também a conscientização de que somos tendentes ao egoísmo e à desobediência. No entanto, o caminho inverso jamais será feito através de mera dominação paterna e materna, mas do amor, que convida à obediência e conscientiza da responsabilidade de reparar os próprios erros. Obedecer é fortalecer a vontade. A nossa vontade começa a se educar pela obediência, mas a obediência amorosa.
Ana Carla Bessa
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