Decidido, entrei no quarto e fechei a porta… No curto caminho até a escrivaninha, lembrei que precisava lavar algumas roupas e pagar dois boletos. Lembrei ainda que precisava comprar tomate, ração e creme dental. Dei mais alguns passos e, na minha mão, o celular vibrou. Era mais uma mensagem do grupo no whats. Eu já não tinha tanto interesse em saber sobre o que era, mas precisava zerar minhas notificações. Abri o grupo, visitei outro. De repente, estava sentado na cama olhando stories de um amigo lá da Groenlândia.
Me levantei. Peguei a cadeira. Sentei novamente, mas dessa vez na escrivaninha. Coloquei de um lado a bíblia e o caderno de oração. De outro, deixei o celular. Quando pensei em começar, o aparelho vibrou outra vez. Realmente não é fácil rezar. As distrações ficam cada vez mais intensas quando queremos estar com o Senhor. Gastei 20 minutos até me acomodar no lugar onde costumo rezar. Já estava decido a iniciar, mas o celular voltou a tocar. Resolvi, então, desligar a internet e colocar o aparelho na cama, atrás de mim, assim não estaria ao alcance da minha visão. Funcionou.
Um bom conselho
Nas Sagradas Escrituras, lemos o seguinte: “Quando orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo” (Mateus 6, 6). Esse é o conselho que Jesus nos dá para crescermos na intimidade com o Senhor. Hoje em dia, esse conselho também diz respeito à utilização do celular. De fato, devido à tecnologia, mesmo trancados em nossos quartos, muitas vezes não estamos completamente sozinhos, estamos sempre conectados. Isso, por um lado, é muito bom, mas, por outro, pode ser um grande desafio, pois, aliado às nossas distrações, o celular pode ajudar bastante aquilo que em nós não quer rezar.
Santa Teresa de Jesus sabia o quanto a imaginação podia roubá-la da oração. Por isso, ela travava verdadeiras batalhas para zelar por sua intimidade com Deus. Todos os dias, vivemos uma luta para conquistar a vida de oração. É disso que Teresa fala quando diz que muito custa aquilo que muito vale. Para rezar, é preciso vencer uma guerra que acontece muitas vezes dentro de nós: a ansiedade por querer resolver algo, a lembrança de uma situação aleatória, as mensagens que chegam e exigem de nós uma resposta. Certa vez escutei que estamos vivendo a “síndrome do presidente dos Estados Unidos”, ou seja, temos muitas coisas importantes e urgentes para resolver e por isso não podemos “perder tempo”.
Desacelerar é o segredo
Quando chegamos na escrivaninha acelerados, não conseguimos parar, não conseguimos começar. É necessário ir deixando cada coisa em seu lugar. Como nos ensina São João da Cruz, não devemos oferecer nossa atenção para as flores e nem para as feras que encontramos no nosso caminho rumo ao Senhor. Nossa total atenção deve ser do Amado. É difícil? Quando estamos muito acelerados, é muito difícil. Mas quando vamos deixando que o nosso coração seja preparado, quando vamos deixando tudo do lado de fora do quarto, percebemos que vai se tornando mais fácil. É uma via de abandono e de fé. É acreditar que Deus tem o controle daquela situação, que Ele sabe como nos sentimos diante da espera de uma mensagem e que Sua Divina Providência age na nossa vida independente do que façamos.
Vamos recomeçar o texto… Decidido, entrei no quarto, fechei a porta e liguei o celular… O celular que me conecta com o Pai: a oração. É nela que escuto os segredos do Seu Divino Coração… É nela que experimento a verdadeira Paz, Shalom!
Acho que esse desafio é universal. Compartilho da mesma dificuldade, a cena de entrar no quarto é a mesma… (rsrs). Acredito também que além da aceleração que é intrínseco em nós hoje, há uma grande dificuldade de nos “retirarmos” e nos colocarmos inteiros na oração, voltar o coração, o pensamento, o próprio desejo de estar ali parados, disponíveis para escutar. Algo que me ajuda realmente é a decisão, lembro sempre daquele passagem que diz: “Se o teu olho direito te leva a pecar, arranca-o e lança-o fora de ti; pois te é mais proveitoso perder um dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado no inferno. ” (Mt 5,19) comigo só funciona se arrancar as distrações.