Antes mesmo de vencer a versão italiana do “The Voice”, Irmã Cristina Scuccia já era uma sensação mundial na internet. Agora ela acaba de lançar seu primeiro single chamado “Like a virgin”. Sim, você entendeu bem, é a reinterpretação de uma das canções mais famosas e icônicas da cantora pop Madonna. A canção foi composta por Tom Kelly e Billy Steinberg também conhecidos por outras obras como “True Colors” e “Eternal Flame”. Antes de refletirmos sobre esta ousada iniciativa de lançar o single, conhecer alguns fatos curiosos por detrás da canção é importante para lançar luzes ao assunto.
A ideia da canção surgiu quando Steinberg dirigia sua camionete e pensava sobre sua experiência pessoal onde, após um turbulento relacionamento, finalmente havia encontrado um amor que lhe fazia sentir “radiante e novo”, conforme escreveu na canção. Foi neste espírito que Steinberg começou a escrever “I made it through the wilderness. I was beat, incomplete, I’ve been had” (tradução, “Consegui atravessar o deserto. Estava derrotado, me sentia incompleto, fui enganado”). Quando Kelly viu o rascunho da canção também se identificou imediatamente com a letra, pois também vivia o fim de um relacionamento. A maioria das pessoas nunca imagina que esta canção tenha sido escrita a partir de algo significativo na vida de duas pessoas, muito menos de dois homens.
Em 1984, Madonna lançou a música em uma controversa apresentação durante o MTV Music Award, usando um vestido de casamento estilo punk, um cinto com a inscrição “Boy Toy” (tradução, “Brinquedo de Menino”), enquanto dançava, se rastejava e ao final simulava um orgasmo. O vídeo clip foi lançado no mesmo ano e tem como fundo a cidade de Veneza, Itália, onde a cantora aparece com ar provocante e sensual. Ela tinha 26 anos de idade quando lançou a canção, sendo este parte de seu segundo álbum de carreira.
Irmã Cristina, uma jovem freira Ursulina e, deste modo, uma consagrada com votos de pobreza, castidade e obediência, escolheu para seu primeiro single a mesma controversa canção. Ao ser entrevistada sobre a razão de sua escolha ela explica: “Eu a escolhi sem a intenção de provocar ou escandalizar. Lendo a letra, sem ser influenciada pelas interpretações anteriores, você descobre que é uma música sobre o poder que o amor tem de renovar as pessoas, de as resgatar de seu passado e é assim que eu queria interpretá-la”. Sua intenção era a de dar testemunho da capacidade que Deus tem de transformar todas as coisas em algo novo. Curioso também é o fato de Irmã Cristina lançar a canção também aos 26 anos de idade e na mesma cidade de Veneza.
Na versão de “Like a virgin” de Irmã Cristina, o espectador é levado a compreender que há um anseio profundo no coração de cada homem que é o desejo de amar e ser amado, de ser tocado e preenchido por alguém. Este desejo é belo, é sincero e é uma tentativa de preencher o misterioso vazio que traz consigo. Isto encontra eco em Santo Agostinho quando este escreveu que há “um vazio do tamanho de Deus” no coração do homem e que somente Deus pode preencher.
Não é difícil ver a diferença entre a versão cantada por Madonna, que à época era considerada um símbolo sexual, e a de Irmã Cristina, que é um sinal de pureza. Ambas cantam sobre alguém que dá sentido às suas vidas e que orienta suas escolhas fundamentais. Deixa a entender que o crucifixo usado por Madonna, que se sobressai aqui e ali no vídeo, não passa de um adereço decorativo que, juntamente com sua sensualidade e ao apelo sexual em sua linguagem corporal, reduz a sexualidade humana ao nível da genitalidade apenas.
Por outro lado, Irmã Cristina também usa um crucifixo que se destaca várias vezes no vídeo, porém este não é um enfeite que está “na moda”, mas um sacramental que ela recebeu quando abraçou a vida religiosa, um sinal da escolha fundamental de sua vida. Ela usa o corpo também, mas não como um símbolo sexual e sim como sinal de eternidade, sinal de que nossos corpos são um dom precioso do amor e para o Amor (que é Deus). Em sua feminilidade, ternura e pureza ela eleva a sexualidade humana ao seu devido lugar, em direção ao Criador, o Amado de nossas almas, para além do “aqui e agora”.
Mesma canção, mesma cidade, mesma idade. Diferentes interpretações, diferentes apelos. Um desperta o desejo sexual, o outro desperta o desejo espiritual (que dignifica o desejo sexual em seu sentido mais elevado). Dois caminhos, duas opções, mesmo anseio do coração. Talvez Irmã Cristina tenha alcançado muito mais: transformar em oração uma canção tão estigmatizada, não somente através de sua voz, mas acima de tudo através de seu corpo, templo do Espírito Santo, e de seu testemunho.
“Glorificai a Deus com seus corpos” (I Cor 6,20)
Emanuela Cardoso
“Like a virgin”, Sister Cristina (2014): https://www.youtube.com/watch?v=r0e8Uve7cJU
“Like a virgin”, Madonna (1984): https://www.youtube.com/watch?v=s__rX_WL100
Vendo o clip e prestando atenção na musica e no novo contexto que essa letra é inserida… a pureza … a castidade.. o ser inteiro para Deus… pq foi isso que observei ao ver o clip. É esse testemunho… de um coração que encontrou leveza ao estar com Deus, que eu vejo. Ela não deixou de ser freira, não deixou de ser mulher por ser freira, mas na sua vocação se encontrou. Uma bela forma de evangelização que a irmã Cristina nos mostra. Gostei muito!