“O amor que pode me arrastar…”. Desde muito pequeno lembro bem que dentro de mim existia algo diferente que não sabia dar nome. Lembro-me de um diálogo com minha mãe, em que, por volta dos quatro ou cinco anos, expressava o desejo de fazer a primeira comunhão e, naquela época, não tinha muito conhecimento dos requisitos para tal, mas lembro de uma prima que fazia catequese em preparação para este sacramento e isso me chamava à atenção. Desejava ardentemente a primeira comunhão.
Continuei a vida e crescia este sentimento, algo como uma inquietação, um desejo de amor e ao mesmo tempo de amar. Certa vez quando fazia curso de coroinha em minha paróquia expressei ao, à época, coordenador que desejava namorar, pois, desse modo, esse desejo de amar e de ser amado seria saciado. Ele retrucou: Peça a Deus uma namorada e Ele te dará.
O tempo passou e, pela graça e Deus, experimentei pela primeira vez do Amor de Deus. Era outubro de 2003, eu participava de um Seminário de Vida no Espírito Santo em minha paróquia. Foi marcante a pregação sobre o Amor de Deus que um postulante da Toca de Assis ministrava e, mais ainda, a canção recitava ao final chamada prisioneiro do amor.
Ao ouvir a estrofe “E agora sem forças, eu sou prisioneiro, do mais belo amor, do doce Jesus, do meu bem da cruz” era como se dentro de mim um véu se partisse e eu, a partir daí, entendesse toda minha vida, tudo que Deus sempre esperou de mim, paralelo ao amor que sempre ansiei, busquei e desejei. A partir daí corria em buscar corresponder esse amor infinito, perfeito e que, mais adiante, me conquistaria para sempre.
Foi a partir deste seminário e do desejo de ser todo de Deus que, em 2004, ingressei no Instituto dos Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento, a Toca de Assis. Lá eu descobri a alegria, a graça e os desafios de ser desposado por Jesus. Após um período de discernimento, permanecendo nesta Comunidade por cinco anos, retornei a vida secular.
Até chegar o Festival Halleluya, do ano de 2011, onde vivi uma grande experiência com o carisma Shalom por meio dos shows, adoração, missa, oração e etc. Ali sentia que começava algo novo na minha vida que, mesmo sem saber definir, certamente viria a ser um divisor e águas. Neste meio tempo, descobri que abriria um Centro de Evangelização no Shopping próximo a minha casa.
Então comecei a frequentar a Comunidade Shalom por meio do grupo de iniciantes, missas e produções artísticas. No entanto, não conseguia sentir-me parte da Obra. Até que um dia, a convite de uma amiga chamada Tainá, participamos do Congresso de Jovens Shalom que, naquele ano, 2012, aconteceu no Rio de Janeiro como preparação para a Jornada Mundial da Juventude de 2013.
Pra ser mais preciso foi no espetáculo ENCONTRO onde pude conhecer o que é o Amor Esponsal e descobrir que ele estava dentro de mim e precisava correspondê-lo. Ao ouvir a música Vida ou Morte, tudo, tudo dentro de mim voltou a ter vida e, ao chorar como uma criança sentia a alegria de, enfim, reencontrar o esposo.
Os anos se passaram e, após trilhar o caminho de discernimento no Vocacional Shalom, ingressei no ano de 2014 no postulantado da Comunidade Shalom como Comunidade de Aliança. Não fazia a menor ideia do que me aconteceria nem à quais lugares Deus me enviaria. Foi quando, em 2015, como Postulante, partiria como Aliança Missionária à cidade de Joinville-SC onde descobriria a vontade de Deus em relação ao meu Estado de Vida.
Deus dizia e comprovava que me chamava a ser celibatário pelo Reino dos Céus. Que loucura! Como seria celibatário neste século!? Como eu, sendo homem, iria viver a continência perfeita? E meu futuro? Meus pais? Muitos questionamentos como esses vieram ao meu coração. Até hoje todos estes questionamentos existem, porém são preenchidos pela voz de Deus que diariamente vêm ao meu encontro e me diz: “tu és Meu, Eu sou teu”.
Diante disso, Deus me acalma nas incertezas e, com a sua presença, me faz ser fiel a cada dia aos meus votos e promessas. Os anos de missão e discipulado foram tempos de silêncio e escuta. Todas as vezes que quis desistir, em sua palavra, Deus reafirmava Sua vontade. Sim, era possível ser celibatário. Na história da Igreja, sempre recordava a vida de santos e santos que, com suas virtudes, me apontaram o celibato como possibilidade de amar exclusivamente o céu.
Relutei por medo das minhas fraquezas. As autoridades me ajudaram. Mas foi na Palavra de Deus onde eu encontrei resposta. Jeremias 16,2. Isaias 54, 1-6. Deus sempre foi generoso e claro e, ao ler em especial à palavra de Isaias, Ele me pedia para alargar as tendas e vi aquele menino, de 17 anos, que ingressava na Toca de Assis, unicamente porque queria ofertar tudo a Deus. Neste momento Ele me tomava como esposo e dava sua própria vida como promessa e herança.
Vivido todo esse processo, dia 25 de março de 2019, mandei minha carta solicitando ao Conselho Geral a profissão dos meus primeiros votos. No dia 3 de julho, dia de São Tomé, recebi a resposta. E no dia 15 de agosto, dia de Nossa Senhora da Assunção, sob o olhar da Virgem, de meus irmãos e autoridades, fiz a maior loucura de amor por Deus, a profissão dos meus votos no Celibato pelo Reino dos Céus como Comunidade de Aliança.
A partir daí, vivo a aventura de desbravar esse mistério que é ser celibatário no meio secular, e posso dizer todos os dias, é possível. Por essa voz eu sigo, e é por esta voz que eu permaneço. Que grande alegria e que grande mistério é ser todo de Deus.
Rio de janeiro, 02 de abril de 2020 (15 anos da pascoa de Joao Paulo II)
Eduardo, Filho de Deus, Shalom, Aliança, Celibatário pelo Reino dos Céus
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