Viver neste ano outra vez o Dia Mundial dos Pobres foi para mim um imenso dom de Deus, que sempre na sua imensa bondade me presenteia com esse dia imperdível de participar. Como discípula da Comunidade de Aliança, da Comunidade Católica Shalom, posso servir com a alegria. Sim! Parece meio clichê, mas é pura verdade! Há de fato mais alegria em dar do que receber. Vivo todos os anos isso quando me oferto um pouco pelos pobres. Nesse ano, não foi diferente! Vivi o serviço com as crianças que me ensinaram bastante.
Fui escalada para um serviço e ao chegar no local do Centro de Evangelização vi que havia outra necessidade diferente da que tinha programado para realizar, mas tudo bem! Lá fui eu realizar para a atividade com as crianças que vieram visitar o Shalom naquele dia. Inspirada pelo Espírito Santo de Deus, iniciei a leitura de livros infantis para as crianças que lá estavam e sei o quanto crianças amam ouvir histórias infantis, ainda mais quando uma pessoa adulta se detém um pouco e com elas vivencia essas histórias. É uma experiência única para quem ler e para quem ouve, isso porque remete à função materna, ao cuidado, ao ter tempo de qualidade para ofertar às crianças e elas percebem valor nisso e se embalam ao ouvir histórias. Assim, lá fui eu.
Logo algumas meninas chegaram mais perto e sentaram e outros meninos ficaram deitados na esteira no chão para escutar a história que eu lia. Uma das meninas, a de vestido azul, bem entusiasmada pediu para ler comigo, ela me contou que já era do quarto ano, mas lia com alguma dificuldade, porém isso não a deteve, não a paralisou e, assim, eu lia uma página e ela lia a outra e, como a história tinha uma certa rima, ficou legal! No meio da história, claro que parávamos vez ou outra para tecer algum comentário sobre o que estava sendo lido. Como, por exemplo, no modo de relacionar-se dos personagens, seus sentimentos, atitudes, etc.
Daí continuamos a leitura da história, em que as crianças se deleitavam ouvindo-as atentamente e me ajudando na contação das mesmas. Em seguida, pude presenciar algo que muito me marcou, demonstrando o quanto temos que aprender com nossos amigos pobres, acostumados a sair de si o tempo todo, a ceder, a abrir mão. No final do dia, quando estavam arrumando tudo para eles voltarem ao seu local de origem, me solicitaram para levar alguns até um bairro que eu não conhecia da cidade. Então, como eram muitos, e no carro só tínhamos três vagas disponíveis e apareceram dois adultos e quatro crianças para irem, mas não iria dar todos no carro, ficamos por alguns segundos na frente do Centro de Evangelização conversando um pouco sobre como faríamos para resolver a situação.
O serviço com as crianças
Foi quando uma das meninas, aquela de vestido azul, que ficou lendo a história do livrinho comigo, disse rapidamente, sem pensar muito: Pronto! Ele (se referindo ao rapaz) pode ir no meu lugar, eu vou depois, noutra carona. Aquilo de fato chamou minha atenção, uma criança com 9 anos cedendo o seu lugar ao outro. Quanto desprendimento, quanto sair de si, despojar-se. São essas atitudes que me chamam atenção nos amigos pobres, sempre dispostos a ceder, a dar o lugar, a perder para o outro ganhar. Tanto a nos ensinar, nós que sempre pensamos no melhor pedaço para nós, que queremos sempre a melhor parte, tão limitados no nosso mundinho, tão sectários e fechados. Essa criança muito me ensinou naquela tarde. Me ensinou amor, desprendimento, alegria, superação, resiliência, sair de si.
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No caminho, o rapaz se mostrou tão aberto à evangelização, contou-nos que nos últimos meses estava frequentando outro lugar, mas que gostou do Shalom, que o pessoal era legal, que o mesmo era lavador de carro, e a partir daquele dia queria voltar ao Shalom para participar do sábado da paz, mesmo tendo dificuldade de após trabalhar no sábado lavando carros, precisaria tomar um banho em sua casa para ir mais arrumado para o grupo de oração, mas queria muito isso e que ia dar um jeito. Eu senti mais uma vez a mão bondosa de Deus que me proporcionava ser mais amiga dos pobres, no qual eu pude retribuir o imenso amor de Deus e realizar minha ofertar de amor naquele dia.
Martha Maria Veloso
Discipulada comunidade Shalom – Psicóloga e logoterapeuta
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