Conhecer um pouco da história de Jolcemir da Silva Vieira nos põe no horizonte da santidade possível a que todos são chamados, que vida e morte unidas à vida e morte de Cristo são fecundas, produzem frutos incontáveis. Nesta jornada descobrimos que a discrição, humildade e alegria atraem o coração de Deus.
Para saber mais sobre a entrega, páscoa e colheita da história deste missionário da Comunidade Católica Shalom conversamos com Jaci, a irmã de Jolcemir, Padre Ângelo que celebrou a Missa de um ano de sua páscoa e com João Patriolino, Responsável Local do Shalom em Moçambique, a última missão onde o jovem pernambucano esteve a entregar sua vida.
Muito religioso, desde a infância
O Jocelmir sempre foi muito religioso, desde a infância. A mãe era protestante, mas ele e o irmão, Valcemir, deram seus primeiros passos na fé na Comunidade Católica Jovens Cristãos. Depois conheceu a Comunidade Shalom e se engajou. Veio a primeira a surpresa.
“Sabíamos que a vida dele era estar no Shalom, mas nunca imaginávamos até onde poderia ir, não tínhamos conhecimento da comunidade até ele comunicar que tinha enviado a carta e que a resposta a esta carta faria dele um missionário e que ele iria andar pelo mundo”, relembra a irmã.
Jaci conta que a distância de Jhow, como era conhecido, era muito difícil. “Todo domingo éramos tomados pela ansiedade esperando sua ligação telefônica. Normalmente estávamos juntos para que no momento que ele ligasse todos pudessem falar um pouco e amenizar a saudades”, conta. A mãe, dona Severina, sentia uma grande paz quando falava com o filho missionário.
Os mistérios divinos
Jocelmir esteve em missão nas casas do Shalom em São Paulo (SP), Quixadá (CE), Cruzeiro do Sul (AC), São Luís (MA) e Moçambique. Foi desta última cidade da África que veio mais uma surpresa para a família Vieira, a páscoa repentina de Jocelmir, acontecida em 8 de dezembro, de 2018, dia da Imaculada Conceição.
“Ele estava caminhando na rua e caiu. Foi socorrido por um rapaz desconhecido, que chamou um policial que passava pelo local. Os dois o levaram para o hospital, mas ele já chegou sem vida”, rememora João Patriolino.
“Para nós foi muito difícil, visto que éramos cinco missionários com ele, três irmãs e dois irmãos, então, ficamos em quatro. Vivemos tudo com muita dor, mas com muita serenidade, pois entendemos que ‘nenhum cabelo cai da nossa cabeça se não é permissão de Deus’. São os mistérios Divinos que nos ultrapassam, mas que precisamos acolher”, compreende o missionário veterano. Estes mistérios Divinos acompanharam a família do Jocelmir, a 7 mil quilômetros de distância.
A notícia da páscoa de Jocelmir foi dada aos pais pela irmã Jaci acompanhada de três missionários do Shalom de Recife. “Três mensageiros”, foi como o pai chamou os enviados. “Quando lá chegamos minha mãe identificou que era o pessoal do Shalom que estava comigo. Ela os reconheceu pelo Tau. Minha mãe entendeu logo o que se passava, meu pai, a princípio, parecia não querer entender, mas precisou ser forte para acalmar a minha mãe”, relembra Jaci.
Completou a missão
Depois das lágrimas Jaci ouviu de sua mãe a sentença: “Meu filho completou a missão dele aqui na terra, Deus sabe de todas as coisas”. Apesar da imensa dor a família conseguiu manter a tranquilidade, mantiveram-se unidos, um dando força ao outro.
“Meu pai sempre muito emocionado, só pensava e comentava das vezes que o Jhow repetiu para ele o quanto estava feliz. A Comunidade foi um grande consolo de Deus, nos sentimos abraçados, consolados. Meu pai muitas vezes falou que sem esse consolo tudo teria sido mais difícil”, frisa Jaci.
Jaci foi a primeira da família ao saber da morte do irmão. Aquele mistério pascal a tocou profundamente. “No dia da pascoa do Jhow, Cristo ressuscitou em mim”, assevera a jovem.
“A dor que eu senti me fez despertar, me fez olhar para Jesus. Deus se utilizou da páscoa do Jhow para que eu O sentir-se me amando. Eu sentia que meu irmão já estava no céu e senti um imenso desejo em meu coração de um dia também ir para céu, mas para eu chegar lá eu já não poderia ser a mesma”, testemunha.
“Então, desde o dia 8 de dezembro de 2018 a minha vida mudou. A forma que eu encontrei para viver no mundo sem o Jolcemir foi vivendo para Cristo e morrendo para o mundo. Escolher por Deus não tornou a minha dor menor, mas fez de mim uma pessoa de fé e cheia de esperança, esperança na vida eterna”, reflete.
Dois meses antes da páscoa do Jolcemir, a irmã relata que ele pediu algumas vezes para que ela fosse até o Shalom da Missão Recife, para que no Centro de Evangelização recebesse oração. “Ele me encaminhou até o Shalom antes de ir, ele sabia muito bem onde eu encontraria a verdadeira felicidade e a paz que eu tanto precisava. Então logo depois da Páscoa do Jhow, fiz o Seminário de Vida no Espírito Santo, no Acamp’s, e hoje faço parte do Grupo de Oração”, testemunha emocionada.
Um ano da Páscoa do Jhow
A chegada do corpo de Jocelmir foi um momento de muita comoção para a família e também de renovação da esperança. Momento ainda mais marcante para o pai, o senhor Valdecir, que sendo pedreiro confessa que teve a maior dor e a maior alegria de sua vida: “construir o túmulo do próprio filho”. O testemunho do pai foi relatado ao Padre Ângelo, sacerdote da Comunidade Shalom, que presidiu a missa de um ano da Páscoa do Jhow.
“Nas palavras do pai, a argamassa foi feita com a água e com as lágrimas dele. Tudo foi construído com muito zelo, pois queria dar o melhor para o filho que deu tudo a Deus e queria que quando as pessoas, em particular os irmãos da Comunidade estivessem ali, pudessem rezar bem, fez a parte de cima do túmulo em um formato parecido com uma Igreja para honrar o filho Missionário”, nos conta o sacerdote.
A Páscoa de Jhow trouxe frutos abundantes. “Meu pai entrou em um processo de conversão. Ele começou a frequentar a Igreja Católica, ingressou no Movimento do Terço dos Homens e hoje vive uma vida religiosa, muito devoto de Nossa Senhora, fala dela com muita fé e muito amor. Antes da páscoa do Jhow eu não recordo vê meu pai em uma missa. Hoje ele não falta um domingo”, relata Jaci que também fala sobre a conversão da mãe após a morte do irmão.
“Minha mãe era protestante havia muitos anos, alguns meses depois da páscoa do Jhow, ela entrou em um processo muito difícil interiormente. Eu via uma inquietação dela em relação a Deus, via um momento de decisão. Logo depois ela se converteu à Fé Católica. Meus pais agora fazem parte do Encontro de Casais com Cristo – Hoje nós quatro vivemos em um só caminho, vejo isso como fruto da oferta de vida do Jolcemir”, finaliza.
Os frutos não foram abundantes somente na família do Jolcemir, na missão onde ele fez sua páscoa, também.
“Penso que a páscoa do Jolcemir fecundou mais ainda a nossa missão aqui, em Moçambique, pois foi um “grão de trigo” fecundo. Vivemos um crescimento em todos os sentidos. Estamos fazendo um Seminário de Vida no Espírito Santo numa paroquia, que conta com uma média de 150 pessoas. Paróquias têm nos chamado para evangelizar com nosso jeito de ser. Hoje somos responsáveis pela coordenação nacional do Charis Moçambique (Serviço para a Renovação Carismática, criado pelo Papa Francisco). Até nosso empenho nos preparativos da visita do Papa Francisco em setembro último onde coordenamos a Comissão de Arrecadação e Captação de Recursos e parte dos Voluntários, foi tão bem sucedido… Acreditamos que todas estas graças são fruto também dessa páscoa do Jocelmir, o nosso Jhow”, testemunha João.
Comunhão de Bens
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