Santo Tomás de Aquino, na sua extensa obra, a Suma Teológica, discorre sobre o tema da alma, se baseando consideravelmente no pensamento aristotélico. O Aquinate afirma que a alma é o primeiro princípio de vida dos seres vivos, incluindo plantas e animais.
De fato, num primeiro momento, a reflexão do Doutor Angélico pousa seu olhar na alma como princípio de vida de todos os seres vivos ou animados, de modo que fala da alma que as plantas possuem, com as suas determinadas características, e que os animais possuem, também com as suas particularidades.
Contudo, após ter assentado as bases da reflexão, Santo Tomás se volta para a alma humana e sobre esta discorre com profundidade. Fala da alma humana de modo geral, apresenta as suas faculdades ou potências, identifica as suas operações, se refere à união com o corpo e a vida da alma após a separação deste, entre outros temas.
Partindo do pressuposto que a alma é o primeiro princípio de vida dos seres vivos, o Santo destaca três características fundamentais da alma humana. Ele afirma que ela é imaterial, subsistente e imortal.
1- Imaterial
“A alma que é o princípio de vida não é corpo” ensina Santo Tomás. Declarar que a alma não é corpo é afirmar que ela não tem matéria, que não pertence ao mundo material. Embora a alma esteja unida substancialmente ao corpo, que é sim, material, ela em si mesma nada é nem nada tem que pertença ao mundo material. Esta primeira característica se verifica também na alma de plantas e animais.
2- Subsistente
Se a alma humana é imaterial ou incorpórea, é necessário que seja subsistente em si mesma. Afirma Santo Tomás: “o princípio da operação do intelecto, que é a alma humana, é um princípio incorpóreo e subsistente” . Que a alma seja subsistente em si mesma quer dizer que não depende do corpo para existir. Cabe dizer que esta característica só se verifica nos seres humanos. Nos animais, a alma não subsiste por si, mas está sujeita ao corpo.
3- Imortal
Em virtude da característica anterior, que afirma que a alma pode existir sem o corpo, faz-se necessário declarar que a alma humana é imortal. Ora, sabemos que em determinado momento e de maneira inevitável todos os seres humanos morrem. O que acontece nesse momento? Na hora da morte se dá a separação do corpo e da alma. O corpo fica sem vida, inanimado, pois, separa-se da alma que o anima, e entra em processo de decomposição ou, como diria Tomás, em estado de corrupção. No entanto, a alma não se corrompe, mas subsiste. Apesar de possuir com o corpo uma união substancial, a alma humana não se corrompe com a destruição do composto: “o pó volta à terra de onde veio e o sopro volta a Deus que o concebeu” (Ecl 12, 7).
Santo Tomás afirma que a alma humana é imortal, ou seja, que não se corrompe após a morte do corpo: “É necessário dizer que a alma humana, que chamamos de princípio intelectivo, é incorruptível.”
Estas três características descritas por Santo Tomás, a dizer, que a alma é imaterial, subsistente e imortal, dão uma noção básica sobre a natureza da alma humana. Garrigou-Lagrange afirma que estas três qualidades também as conhecemos como a característica espiritual da alma humana.
A característica espiritual da alma diz respeito à uma capacidade e uma tendência natural a Deus e às coisas do alto que o Criador imprime na alma humana. De modo que o espírito, do qual São Paulo fala na Carta aos cristãos de Tessalônica – “tudo aquilo que sois, corpo, alma e espírito…” (1Ts 5,23) –, não consiste em um terceiro princípio da composição humana, além do corpo e da alma, antes trata-se de uma característica da alma.
O homem não possui “espírito” e “alma”, antes tem uma alma espiritual. Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI) descreve esta característica da alma como “uma espécie de memória, como que uma lembrança de Deus gravada no homem, e que deve ser despertada nele”.
Tenho sido renitente, caro autor, no tocante à aceitação tácita da “espiritualidade obrigatória” do ser humano. Explico: usualmente, todos aqueles que não praticam uma religião soem ser menosprezados (ou até desprezados, nalgum casos mais contundentes ou estremistas. Não vejo o porquê o desprezo pelos agnósticos (como eu), como se fossem “criminosos”. Perdoem-me, mas é apenas um desabafo que o livre pensar me permite.