O tempo espiritual de ir ao deserto com Jesus, sem dúvidas é muito favorável para irmos a esse deserto chamado vida financeira. É uma boa indicação de tempo para fazer uma boa organização, eliminar os excessos que não estão de acordo com os nossos objetivos.
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Mas de que EXCESSOS financeiros estamos falando mesmo?
Há um senso comum que barra a vontade de Deus, nosso Pai Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis para nós, seus filhos no Filho: excesso é o que não é essencial para as necessidades básicas ditadas pela sociedade atual em que vivo. Será?
É importante usar a faculdade da inteligência e revisitar o que de fato é útil para minha família e para nossa Quaresma. Isso me lembra uma historinha de Santa Teresa D´Ávila e seu grande amigo, São João da Cruz: Lá no século XVI, certo dia, os dois estavam à mesa. Havia lindas maçãs, daquelas maravilhosamente doces, vermelhas e ricas que um solo fértil produz. São João da Cruz, olhando com muito desejo e atraído pela saborosa maçã, no auge do estômago doendo de fome, pronunciou as seguintes palavras de afirmação: Por amor a Deus, não irei comer essa maçã.
Em seguida, com ímpeto forte e já lapidado pelos anos de vida contemplativa, respondeu Santa Teresa: Eu, por amor a Deus, irei comer essa maçã e, nhoc, mordeu a suculenta, cara, desejada e fora do padrão da cesta básica da época, fruta. Fim!
Voltamos ao século XXI…
Bom, não vou discutir ou fazer tese do que é supérfluo ou necessário para a vida alheia, muito menos de dois doutores da igreja. Já tomei um pouquinho do educativo “simancol” cristão. Porém uma coisa é certa, para exercitar o amor é preciso destes dois exercícios na vida:
Momento de não provar da maçã:
Sim, por pura opção, sem talvez aquele entendimento todo de um doutor. Simplesmente, não provar. Optar livremente pela pobreza. Eu posso, ela está ao meu alcance, tenho mil motivos para comê-la, mas, eu opto por não comer. Isso é deserto. Isso é quaresma financeira.
Todo esse exemplo para expressar que é preciso dizer com os bens, para Jesus, para Deus, para o outro que nós queremos estar com Ele. Não é só falar. É um ato concreto. Com afirma São Tomás de Aquino, Deus é amor em atos. E é para lá que eu vou na Quaresma: amar em atos com meus bens, COM MEU DINHEIRO.
Hoje, falamos muito de empatia. De se colocar no lugar do outro, de combater o racismo estrutural e tantos outros importantes assuntos para a santificação da humanidade. Eu não posso e nem aguento sofrer e nem mesmo é preciso viver a dor que o outro vive. Eu só preciso olhar com COMPAIXÃO. E nem tem como descrever isso. É fazer a experiência da quaresma da maçã. Uma centelha, uma gota, uma pequenina atitude de 40 dias. E se você, como eu, tem dificuldade e se tornou carrasco de si mesmo, não se preocupe: não tem como transbordar no outro e nem em Deus, se primeiro não tocar a você próprio. A primeira caridade é para comigo mesmo, diz um santo.
Um ato, um bem, um tempo, uma privação voluntária e o benefício de uma vida abundante. É tão divino que é mais fácil ter raiva do bem. “É melhor não ter maçã do que ter que abrir mão dela”, disse aquele que possui uma baita de uma fraqueza financeira.
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Mas e quanto a comer a maçã?
Deixe isso para os 50 dias seguintes. Porque, graças ao autor da nossa fé, esses momentos também existem. Agora se pergunte: o que é minha maçã? O que está sob a minha mesa, bem à vista de todos que terei que me despedir com amor e/ou dor nesses 40 dias?
Sem ou com extremos, você deverá optar por esse exercício tão humano de deixar por um período as coisas gostosas desse mundão de meu Deus. Simples assim. No fundo, a relação com os bens, como diria São Maximiliano Kolbe, diante da sua obra material (a editora): são as nossas almas.
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