Hoje comemoramos o dia mundial da democracia. A data é importante para refletir e fazer memória da história das sociedades, e para projetar um futuro mais maduro. Para além da simplória definição ensinada nos colégios de que democracia vem de “demos” que significa “povo”, etc… governo nascido do povo, que poder que emana do povo, cujo início histórico seria em Atenas, na Grécia etc… a democracia é bem maior que essas noções iniciais.
Democracia, ao contrário do que muitos pensam, não se resume a um sistema político que permita eleições diretas dos representantes do povo somente. Em um país em que a noção de democracia está resumida a isso, geralmente, a vida política é pautada por grandes corridas eleitorais que se revezam ao infinito, transformando as eleições em uma grande indústria, deixando com ela um rastro de corrupção e jogo de interesses.
Para pensar a democracia de forma mais madura, e este dia merece essa reflexão, precisamos considerar aspectos menos usuais que os utilizados nos debates públicos ou nas conversas de senso comum. É preciso pensar questões como o poder do estado ao conduzir a vida dos cidadãos, o grau de controle e a força que ele deve ter, pois em um estado democrático o povo também deve definir esse papel, e os limites do braço do estado, e sempre deixar mais poder em suas mãos do que nas mãos estatais.
Em uma democracia madura é preciso também que haja equilíbrio entre os três poderes: legislativo, executivo e judiciário. O desequilíbrio torna um dos poderes um déspota, um tirano, e a confiança da nação nos outros poderes decresce, gerando um clima de total insegurança, e instabilidade. Esse desequilíbrio ameaça o bem comum.
Além disso, uma democracia saudável ao afirmar a igualdade de direitos entre todos os cidadãos deve, de forma madura e responsável, afirmar também os deveres de cada um. Todos os direitos afirmados para alguém devem estar sustentados sobre os deveres afirmados para outros. É meu dever respeitar o direito que o outro tem, bem como o outro tem o dever de respeitar o meu direito. Há limites, portanto, numa democracia. E ela não se faz sem deveres. O senso comum julga que deve haver somente direitos, mas sem os deveres qualquer democracia nasce fadada ao fracasso.
Dentre outros pontos que poderiam ser abordados, uma democracia realmente madura deve ser exercida como um papel ativo e efetivo do seu povo. Muitas vezes, o excesso de representações, de delegados do povo, camufla uma sociedade de povo passivo, subserviente, submisso aos governantes que ele “democraticamente” elegeu – um povo constantemente à espera que seus líderes façam o melhor para eles. Uma democracia madura deve estar baseada na participação direta do seu povo, que é a fonte de onde emana o poder. E para isso devem ser pensadas formas, ferramentas, para favorecer essa participação.
Acima de tudo, um governo do povo, para todos, só pode acontecer se houver uma justa hierarquia de valores, e qualquer hierarquia só pode existir se houver um referencial. O referencial, por excelência, de um povo deve ser o próprio Deus, seu Criador, fonte dos valores humanos universais, do Bem, da Verdade, do Belo, do Justo, da Liberdade, da Unidade, do Amor. Um mundo democrático deve ser iluminado por algo que o ultrapassa, pois é isso que dá ao homem parâmetros que transcendam o seu próprio umbigo, e o faz olhar para o bem comum, para a vida fraterna, para a verdadeira Paz.
Uma democracia só pode acontecer de verdade em uma nação cujo povo esteja preparado para exercê-la e para efetivá-la. Portanto, é imprescindível que, neste Dia Mundial da Democracia, reflitamos também a educação do povo, pois a educação, por definição, “essa saída para fora de si”, é que nos pode levar a evoluir nossas instituições de governo, nossas sociedades, que são reflexos de quem nós somos como pessoas.
Rogamos que, nas próximas eleições em nossos países, possamos ir às urnas, ou acompanhar as votações, com uma nova consciência, de que esse gesto do voto deve acompanhar preocupações maiores e outros aspectos da democracia, vivida decisão por decisão, dia após dia.
Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós!