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Heróis da Fé: Jacques Fesch, o jovem assassino francês que se converteu

“Beatificar a Jacques Fesch não significa reabilitá-lo moralmente, nem dar-lhe um certificado de boa conduta ou um prêmio como a Legião de Honra. Sua conversão foi de ordem espiritual”.

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Foto: Unsplash

Antes de falarmos sobre Jacques Fesch, queremos falar sobre o texto que deu origem à Série Heróis da Fé, recordamos a visualização que se deu ano passado, em uma das orações do retiro de escuta do Conselho Geral da Comunidade Católica Shalom, que mostrava um grande campo de batalha no qual havia muitos feridos, que formavam um exército de heróis da fé.

Na mesma oração, também foi revelado quem seriam esses combatentes: “Esses heróis são os próprios pecadores, Deus faz heróis da fé os próprios pecadores, quando eles trazem no coração a graça de um desejo imenso de conversão à santidade”.

Assim, podemos pensar um pouco a respeito do termo “pecadores”. Tal condição não seria incompatível com a santidade? Poderia um pecador ser considerado um herói? Ainda mais um herói da fé? Haveria alguma situação de pecado forte o suficiente para excluir alguém da possibilidade de ser incluído nesse rol dos bem-aventurados?

A história de hoje vai nos ajudar a entender que, para Deus tornar alguém santo, a condição não está no fato de ser pecador, mas realmente no desejo imenso de conversão à santidade.

A ideia de cometer um assalto

No dia 24 de fevereiro de 1954, Jacques Fesch, um jovem francês de vinte e quatro anos, resolve cometer um crime. Ele era filho de um rico banqueiro, ateu, infiel e distante da família, que divorciou-se da mulher quando Jacques ainda era pequeno. Jacques, por sua vez, foi educado pela mãe no catolicismo, entretanto, aos dezessete anos, abandonou a fé.

Aos vinte e um anos casou-se com a namorada, porque estava grávida. O sogro conseguiu-lhe um bom emprego no banco. Nessa fase, Fesch viveu ostentando o dinheiro que ganhava como se fosse solteiro, porém, pouco tempo depois, separou-se e teve mais um filho com outra mulher.

Foi então que Jacques Fesch teve a ideia de cometer um assalto a uma casa de câmbio, para comprar um barco, a fim de viajar pelo mundo. Assim, retornamos para o dia 24 de fevereiro de 1954, quando ele tentou assaltar o cambista Alexandre Sylberstein. Jacques chegou a ferir Alexandre com duas coronhadas na cabeça, porém, este conseguiu acionar o alarme antirroubo. Na fuga, Jacques atirou em um policial, Jean Vergne, que era viúvo e pai de uma menina, e este acabou morrendo.

Em cinco horas, verei a Jesus

O crime gerou grande comoção na França. Jacques foi preso e condenado à pena de morte. Os meses que se seguiram foram de revolta e indiferença contra a Igreja, porém, após o primeiro ano de prisão, por intermédio do seu advogado, Paul Baudet, que tentava evangelizá-lo a todo custo, Jacques finalmente cedeu, arrependendo-se profundamente do seu crime, ao fazer uma forte experiência com a Misericórdia Divina.

Sua conversão se deu de forma inesperada, na noite de 28 de fevereiro de 1955. Ele descreveu em seu diário a experiência vivida:

“Estava deitado de olhos abertos, realmente sofrendo pela primeira vez na vida. Repentinamente, um grito irrompeu do meu peito, uma súplica por ajuda: ‘Meu Deus!’ E, como um vento impetuoso que passa sem que saiba de onde vem, o Espírito do Senhor me agarrou pela garganta. Tive a impressão de um infinito poder e de uma infinita bondade que, naquele momento, me fez crer com convicção que nunca estive abandonado”.

Após esta experiência, Jacques ainda passou mais de dois anos na prisão, vivendo de forma acética, sendo atendido pelo capelão da cadeia e evangelizando seus amigos e parentes, através de cartas. Na noite anterior à sua execução, Jacques reconciliou-se com sua esposa e escreveu em seu diário espiritual: “Em cinco horas, verei a Jesus”. 

Ele foi guilhotinado no dia 1º de outubro de 1957, dia de santa Teresinha, de quem se aproximou muito durante os últimos meses de vida, e a quem chamava de “minha pequenina Teresa”.

Como beatificação de alguém como Jacques Fesch?

À primeira vista, um processo de beatificação de alguém como Jacques Fesch poderia ser questionado. Ademais, qual o tipo de heroísmo poderia vir de um assassino? Sobre o seu processo, o teólogo André Manranche disse: “Beatificar a Jacques Fesch não significa reabilitá-lo moralmente, nem dar-lhe um certificado de boa conduta ou um prêmio como a Legião de Honra. Sua conversão foi de ordem espiritual. Beatificar a Jacques Fesch será reconhecer que a comunidade cristã pode rezar a alguém que está ao lado de Jesus”.

Quanto a ser um herói da fé, o fato de ter acreditado na sua redenção e ter realmente convertido radicalmente sua vida para Deus, diante do crime mais grave que pode ser cometido contra outro ser humano, que é o assassinato, exigiu, de fato, um tipo de coragem e confiança que, infelizmente, nem todos possuem. Ademais, se todos carregamos a culpa pela morte de Cristo, que morreu para nos salvar da condenação eterna, poderíamos nos considerar menos pecadores que Jacques Fesch?

Ao escrever este texto, me vem à memória a figura de Dimas, o bom ladrão, o primeiro santo canonizado pelo próprio Cristo, na iminência de sua morte na Cruz. E também a lembrança de Henry Pranzini, um francês condenado à morte por tríplice assassinato, que foi o primeiro filho espiritual de Santa Teresinha. Na iminência da morte, Pranzini, que até então não demonstrava qualquer tipo de arrependimento, certamente encorajado pelas constantes orações da jovem Teresa de Lisieux, beijou por três vezes o crucifixo que lhe foi oferecido por um sacerdote, sendo guilhotinado logo em seguida.

O que Dimas, Pranzini e Jacques Fesch têm em comum?

Por certo, a Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Dimas foi crucificado ao lado de Jesus; Pranzini encontrou-se com o mesmo Crucificado no cadafalso, ao beijar suas chagas, no crucifixo. Quanto à Jacques Fesch, este foi encontrado pelos guardas de joelhos, em sua cela, pouco antes de ser levado para a sua execução, rezando: “Senhor, não me abandones, eu confio em Ti!”

Tal oração certamente nos remete ao Salmo 21, que Jesus começou a rezar em seus últimos instantes de vida: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?” Quem conhece realmente este Salmo, sabe que o versículo proclamado por Jesus não se tratou de um ato de desespero, mas de uma oração de confiança em Deus Pai, que, por mais que aparentemente estivesse ausente, permaneceu com Seu Filho até o fim, como podemos ler ao longo de todo o Salmo e, especificamente, nos versículos 24 e 25:

“Vós que temeis o Senhor, louvai-o; vós todos, descendentes de Jacó, aclamai-o; temei-o, todos vós, estirpe de Israel, porque ele não rejeitou nem desprezou a miséria do infeliz, nem dele desviou a sua face, mas o ouviu, quando lhe suplicava”.

Isto é conversão à santidade: acreditar firmemente, até o fim, na força pungente da Salvação de Jesus Cristo, que, com o Pai e o Espírito Santo, olha a miséria do infeliz e escuta-o, sem desviar sua face dos que clamam por sua Misericórdia.

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