A Igreja de Cristo, embora tenha tido seu início numa cultura e num espaço geográfico bem específico, ou seja, Jerusalém, território da Cisjordânia, na Palestina, sua identidade extrapola os limites de tempo, espaço, raça e cultura. O apóstolo Paulo foi o pioneiro na compreensão de que a salvação efetuada na oferta redentora de Cristo é para todos e não apenas para judeus.
“Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; todos vós sois um só em Cristo Jesus. Mas, se pertenceis a Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa.” (Gl 3,29)
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O Catecismo, assim, dedica alguns parágrafos na exposição dessa catolicidade da Igreja de Cristo e de como se efetua uma sadia inculturação da fé, no âmbito de culto a Deus.
“Desde a primeira comunidade de Jerusalém até à Parusia, as Igrejas de Deus celebram em toda a parte o mesmo mistério pascal, fiéis à fé apostólica. O mistério celebrado na liturgia é um só, mas as formas da sua celebração são diversas. ”(CIC 1200)
Essa compreensão em torno do culto a Deus, não amadureceu sem tensões. Não raramente alguns reduzem a Igreja Católica aos fieis de rito Latino, talvez por ser a maior e mais influente. Porém, a Igreja Católica é hoje formada por vinte e três Igrejas (Comunidades) autônomas e todas elas em comunhão completa e subordinadas ao Papa, bispo de Roma.
“Por isso a celebração da liturgia deve corresponder ao gênio e à cultura dos diferentes povos. Para que o mistério de Cristo seja “dado a conhecer a todos os gentios, para levá-los à obediência da fé” (Rm 16,26), deve ser anunciado, celebrado e vivido em todas as culturas, de sorte que estas não sejam abolidas, mas resgatadas e realizadas por Ele”. E mediante sua cultura humana própria, assumida e transfigurada por Cristo, que a multidão dos filhos de Deus tem acesso ao Pai, para glorificá-lO, em um só Espírito. ”(CIC 1204)
Porém, o perigo de atos e princípios estranhos à fé e à mensagem de Cristo, como transmitida pelos apóstolos, estão sempre presentes, o Catecismo adverte:
“Na liturgia, sobretudo na dos sacramentos, existe uma parte imutável por ser de instituição divina da qual a Igreja é guardiã, e partes susceptíveis de mudança que a Igreja tem o poder e, por vezes, mesmo o dever de adaptar às culturas dos povos recentemente evangelizados» (CIC 1205).
Sobre a diversidade de realidades e parâmetros culturais e temporais no mundo e na história, a Igreja adverte, afirmando que: «A diversidade litúrgica pode ser fonte de enriquecimento, mas também pode provocar tensões, incompreensões recíprocas e até cismas. Neste domínio, é claro que a diversidade não deve prejudicar a unidade. Ela só pode exprimir-se na fidelidade à fé comum, aos sinais sacramentais que a Igreja recebeu de Cristo e à comunhão hierárquica. A adaptação às culturas exige uma conversão do coração e, se necessário, rupturas com hábitos ancestrais incompatíveis com a fé católica» (CIC 1206).
As experiências apostólicas e as ações missionárias da Igreja, ao longo dos séculos, puderam constatar, no encontro com diversos povos, raças, línguas e nações, que havia valores e princípios que coincidiam com os fundamentos da fé. Entretanto, haviam também realidades que distanciavam muito da lógica redentora de Cristo. Tais práticas precisaram ser purificadas, ressignificadas, ou mesmo excluídas, seja nas relações sociais, seja no culto a Deus.
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