O celibato foi uma grande surpresa e uma feliz rendição. Nunca sonhei ou havia desejado ser celibatário. Sempre sonhei em casar e construir uma família, e desejava uma família numerosa com muitos filhos. Porém, ao longo da minha história Deus foi tomando as iniciativas e intervindo em meus planos me revelando sua vontade. Fui sendo profundamente amado, respeitado, atraído, e conquistado. E diante dos meus planos, medos, sonhos, apenas um desejo: corresponder Àquele que tanto me ama, amando-O e amando os Seus.
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Em 2015 conheci a Comunidade Católica Shalom no Renascer (retiro de Carnaval), onde vivi o meu seminário de vida no Espírito Santo. Durante a efusão, a experiência que mais me marcou foi quando Deus disse que eu pertencia a Ele. Caminhei dentro do grupo de oração sempre com um desejo de viver o que Deus tinha para mim.
Em 2017 iniciei o caminho vocacional dentro da comunidade e alí pude ir aprofundando a experiência da escolha de Deus por mim. Me marca uma experiência de oração no dia 27 de maio de 2017 onde me senti profundamente amado, muito amado, e uma palavra que Deus me deu nesta oração foi Isaías 62. “Não mais serás chamada a desamparada, nem tua terra, a abandonada; serás chamada: minha preferida, e tua terra: a desposada, porque o Senhor se comprazerá em ti e tua terra terá um esposo.” Foi uma profunda experiência de um amor de predileção. Confesso que nesse dia pensei no celibato pela Palavra da oração, mas achei uma loucura, afinal era muito cedo e também todos nós somos chamados a ser almas esposas.
Em 2019, fiz um retiro pessoal para pedir ingresso na comunidade de aliança. Ao final do retiro, olhando para Jesus, pedi que aquele passo que eu pedia para dar fosse para casar com a comunidade. E que eu desejava viver na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de minha vida até que a morte nos unisse ainda mais. Essa experiência me foi recordada alguns anos depois onde fui percebendo que esta oração muito espontânea era uma expressão da verdade de Deus em minha vida que me dava um povo, a comunidade, a Igreja, para que eu desposasse.
Caminho dentro da Comunidade
Fui caminhando dentro da comunidade no postulantado e discipulado e não pensava em estado de vida. Eu namorava e seguia a minha vida de forma muito natural, amando aquilo que Deus me dava. Mas ao longo do tempo senti que Deus ia intervindo no curso da minha história me revelando algo diferente e maior do que eu poderia imaginar. Comecei a sentir algumas inquietações acerca do estado de vida. Achei a maior loucura, relutei, resisti, mas a voz de Deus de forma muito respeitosa e paciente me conquistava e atraía.
Quando decidi partilhar com meus formadores sobre as inquietações do meu coração, pedi que se fosse da vontade de Deus que fosse confirmado por eles. Na formação onde eu ia partilhar inicialmente sobre as inquietações, na oração Deus deu ao meu formador a palavra de Cânticos 6, 3: “Eu sou do meu Amado e o meu Amado é meu”.
Após isso fui para a Reciclagem (retiro anual dos membros da Comunidade Shalom) e fui sem pretensão de rezar sobre isso ainda por resistir, mas quis Deus também falar sobre este chamado ao celibato. Deus falou pelas orações, pelos irmãos, e até mesmo em sonho. Um irmão me disse que sonhou que ao sair da reciclagem íamos buscar a aliança de celibato dele e quando ele ia conferir a medida, estava folgada em seu dedo. E no sonho eu colocava no meu dedo e era a medida exata! Achei que tinha sido só um sonho, e realmente já tínhamos combinado anteriormente de ao sair da reciclagem buscar a aliança dele. Quando chegamos lá que ele colocou no dedo, estava folgada. Automaticamente lembrei do sonho. Peguei a aliança e coloquei no meu dedo e era a medida era exata. Vi alí mais um sinal de Deus.
Celibatários, serventes do vinho novo
Na revista escuta de 2022, Deus falava para a comunidade sobre os celibatários como os serventes do vinho novo. Ao final da pregação, foi rezado com o cântico de Isaías 62, e proclamado que muitos corações iam sendo despertados para o chamado ao celibato, os medos iam caindo, e iam sendo inflamados pelo fogo divino para responder com generosidade. Lembrei da palavra que Deus havia me dado 5 anos antes e senti uma grande inquietação em meu coração e o desejo me abrir ao celibato se essa fosse a vontade de Deus.
Me rendi e fui vivendo um tempo de discernimento. Fui buscando perceber os sinais de Deus em minha história e fazer uma leitura da minha vida. Além do que Deus falava na oração, percebia sinais no ordinário da vida. O serviço e a vida comunitária foram algo que me ajudaram a ver os sinais. A presença dos jovens, a paternidade espiritual, o estar disponível para os irmãos, o desejo de me preocupar com os interesses de Deus. Meu coração desejava ser inteiro de Deus para amar a tudo e a todos. E com relação aos meus planos pessoais, ao olhar para minha vida, fui percebendo que uma família e filhos não me bastavam, eu me sentia limitado. Eu amava, mas desejava amar mais e amar a todos.
Sinais de Deus na história pessoal
Diante dos medos e inseguranças, fui vendo sinais de Deus ao longo da minha história que me ajudaram a perceber e corresponder a Sua vontade. No dia 28 de maio de 2024 fiz os meus primeiros votos no celibato pelo Reino dos céus. O evangelho deste dia era a promessa dos cem vezes mais para quem deixasse tudo por causa de Jesus e do Evangelho. Quis a providência de Deus lembrar mais uma vez que Deus não tira nada, mas Ele dá tudo, Ele dá muito mais.
No hoje da minha vida escolho amar a Deus e me dar de forma inteira, com a totalidade do que eu sou, na feliz expetativa do encontro eterno onde O contemplarei face a face. O celibato é um mistério vivido a cada dia, cheio de sentido, é concreto, e não tem nada de solidão. A vida do celibatário é povoada de muitos rostos, é povoada de céu.
“Todos os meus melhores frutos, meu Amado, para ti os reservei” (Ct 7, 14)
Antonio Emidio Costa Junior