Num mundo de confusão política nunca vista, onde os políticos têm sede não só de serem presidentes, mas de serem reis e faraós, de serem deuses, pode ser que não seja fácil compreender a festa de Cristo Rei, que fecha o ano litúrgico. Pode ser que seja para muita
gente mais compressível a festa de Jesus servo sofredor, que nos recorda a nossa missão de descer dos nossos pedestais e cingir-nos de avental e ir pelas ruas afora lavando os pés aos últimos. Mas essa visão não é conforme a mente aberta de Deus amor, que mostra que se
pode ter o título de rei e ser servo lavando os pés, e se pode ter o título de servos sendo rei e faraós dentro do coração. Eu gosto desse título, mas gostaria de ver na liturgia do ano outras duas festas de Jesus, Jesus sacerdote e Jesus profeta, porque são intimamente ligadas
entre elas. Mas celebrando Jesus, celebramos sua totalidade, e em todos os aspectos de sua divindade e humanidade que está nos Evangelhos.
Cristo Rei para mim significa muitas e poucas coisas, aliás uma só: ser de Cristo ao seu serviço, totalmente à sua disponibilidade, para viver a Sua palavra e correr pelo mundo proclamando a todos as bem-aventuranças, que são a única constituição que não tem necessidade de mudanças e de adaptações, sempre válida e sempre cheia de conteúdos de amor e de vida. Cristo Rei significa que todo o agir humano deve ser reorientado em defesa da vida e não dos próprios interesses. É claro que quem gosta de trabalhar na noite e não à
luz do sol, o Evangelho, e que julga que todos os símbolos religiosos fazem mal quer eliminá-los pela força, em nome da liberdade.
A minha vida de andanças pelo mundo afora tem me ensinado a saber respeitar todos os símbolos e não chacotear nenhum símbolo, mas ao mesmo tempo pedir respeito pelos símbolos humanos e religiosos nos quais eu creio. Liberdade é vaivém; uma liberdade que vai e não volta não pode ser liberdade, mas egoísmo do mais terrível que possa existir.
As pessoas livres como Jesus e como os santos, os grandes líderes da humanidade são sempre reis, porque não impõem, educam com o exemplo. Quem não educa com o exemplo é um péssimo educador.
O rei é sempre livre
Gosto do profeta Daniel, é o João do antigo testamento, que vê, contempla e narra suas visões que falam de desgraças, mas falam muito mais de esperança, uma esperança viva que tem seu alicerce na palavra do Senhor. Deus tem comunicado sobre o messias que deve vir, que é Jesus, todo o seu poder, sua glória, Ele vai realizar um novo reino baseado na justiça e na paz. O Filho do homem é apresentado por Daniel não como uma força bruta e um profeta de desgraça, mas um profeta de amor e de misericórdia. Devemos saber ler as
profecias com tranquilidade e paz interior. Os profetas pessimistas querem destruir o mundo, menos eles.
Jesus, testemunha fiel
João Evangelista tem uma forte espiritualidade, é um místico, que passa suas noites não olhando as estrelas, mas rezando, contemplando Deus e escutando a voz do Espírito. Faz uma referência ao filho de homem anunciado por Daniel. Sobre quem é esta realização? É sobre a pessoa de Jesus, o novo filho do homem, Cristo será glorioso no alto do calvário, crucifixo para destruir o amor, e na verdade, será o triunfo pleno do amor do leito da Cruz. Jesus é proclamado o rei dos reis, não apenas por Pilatos que mandou colocar no alto da cruz a famosa escrita INRI, que, como sabemos, significa Jesus Nazareno, Rei dos judeus. Uma proclamação do reino de Jesus quer se queira ou não se queira. Deus falou através do burro de Balaão e aqui falava pela boca de Pilatos, que não tem nada a ver com Jesus, mas não sabe que escrevendo isso entroniza o mesmo Jesus no seu reino. Jesus é o rei que nos ama e que veio para nos libertar de todas as escravidões, e a pior é a do pecado, que é um veneno sutil que se esconde e nem sempre é fácil detectar.
Jesus não se proclama rei, é proclamado rei
Os judeus proclamaram que tinham somente um rei, Cesar, a quem odiavam com todo o coração, mas tinham mais medo de César que de Jesus. Por quê? César era um rei passageiro, que antes ou depois passaria, e voltaria a existir um rei judeu que os dominaria
da mesma maneira. Jesus é um rei que não passa e é rei das consciências que não se opõe a palavra do Senhor, mas contra todas as manipulações da palavra de Deus a uso e consumo. Jesus será proclamado Rei no calvário por Pilatos, inimigo declarado dos judeus.
Condenado Jesus à morte pelos judeus, através da crucificação, pensavam em se libertar para sempre de Jesus e não sabiam que viria a Sua ressurreição para derrotar o ateísmo deles. E do lado aberto do peito de Jesus nasce a Igreja, com seus sacramentos de amor. Sempre quando vivemos momentos de dificuldades ou de “noites escuras”, quando não vemos mais nada e sentimos sobre nós o peso do nada, encontramos o segredo para sair e caminhar com nova esperança. Tomo o meu crucifixo, que sempre trago comigo, grande ou pequeno, que seja, e o aperto no meu coração e sinto uma força nova e declaro Jesus o rei que conduz a minha vida, para ele e para sua lei de amor quero viver. Por que temos medo de ter Jesus Rei? É porque Ele nos doa a liberdade e nós preferimos a estrada das leis à liberdade do amor. É tempo de viver um tempo novo, destruir os ídolos no nosso coração e colocar Deus no centro da nossa vida.
Senhor, quero declarar-Te rei da minha vida hoje, amanhã e sempre.
Feliz ano velho litúrgico que vai, e mais feliz ano novo litúrgico que vem!