Formação

Conheça a beata brasileira Albertina Berkenbrock

A menina a quem são atribuídos milagres, foi declarada oficialmente beata pela Igreja Católica em 2007. Conhecida como a Maria Goretti brasileira.

comshalom

Como sabemos, simples é o contrário de complicado. Entretanto, a palavra “simples” também pode significar algo sem dobras, claro, singelo, sem conotações secundárias, que é único e sem misturas, desprovido de afetação, modesto, puro, que não finge nem dissimula, sem malícia etc., assim, diante de todas essas significações, fazendo uma comparação entre as definições acerca da pureza e da simplicidade, podemos concluir que os puros de coração são simples, no melhor sentido que este adjetivo comporta.

Assim, a história que vamos contar hoje é sobre uma virgem mártir brasileira que viveu a simplicidade da fé de uma forma extraordinária. Na verdade, a única coisa complicada na existência de Albertina era o seu sobrenome, de origem alemã: Berkenbrock, aliás, não podia ser diferente, pois 99% das palavras do vocabulário alemão são realmente complicadas. 

Simplicidade, piedade e uma vida virtuosa

Mas, voltando à simplicidade, Albertina nasceu em 11 de abril de 1919, em um pequeno povoado catarinense chamado São Luís, ligado ao município de Imaruí. Sua família era constituída de gente simples, que trabalhava com agricultura, mas que vivia a fé vivamente, tendo os seus pais educado os filhos de acordo com os ensinamentos do Evangelho.

Portanto, desde cedo, Albertina foi incentivada à vida virtuosa, ao serviço, à piedade e ao temor de Deus, que é um dos mais belos dons do Espírito Santo, que não significa covardia ou pusilanimidade, mas um temor filial que leva o cristão à repugnância de tudo o que o pode afastá-lo de seu Pai do céu, ou seja, o horror ao pecado, prática que rompe a amizade com Deus. Inclusive, São Luís Gonzaga, santo que deu origem ao nome do povoado em que Albertina nasceu, ficou conhecido pela prática deste dom do temor ao Senhor, pois, certa vez, derramou copiosas lágrimas quando teve que confessar suas faltas, pois tinha medo de que estas pequenas imperfeições pudessem afastá-lo de Deus.   

Amou como Jesus ensinou

De fato, se pararmos para pensar no que Jesus ensinou, se fixamo-nos bem no essencial, veremos que o caminho por Ele proposto é algo simples, que se constitui basicamente por amar a Deus sobre todas as coisas e, em consequência, ao nosso próximo como a nós mesmos. Calma! Não pense que estou dizendo que isso é algo fácil, mas simples. Explico já a diferença. 

Antes do pecado original, amar era uma atitude fácil para o ser humano, afinal, foi para isso que Deus nos criou, como nos recordou o Papa Francisco durante a JMJ do Rio de Janeiro, que, aliás, tinha como um de seus patronos a beata Albertina: O homem é filho de Deus, que é Amor, e ele foi feito por amor e para amar. O reencontro da vocação do homem ao Amor, razão de sua vida, é urgente e necessário”. Então, também podemos concluir que complicado mesmo é se deixar levar pelas concupiscências, que são as más inclinações que este mesmo pecado nos deixou, embora tenha sido remido por Cristo na Cruz, que é o lugar de expressão máxima do amor divino.

Ao pecar, escolhemos um caminho cheio de “dobras”, escuro, corrompido, com conotações secundárias, que é dividido e misturado, afetado, imodesto, impuro, que finge e dissimula, cheio de malícia. Perceba que, para descrever todas essas terríveis características da vida complicada pelo pecado, apenas listei os antônimos dos atributos de quem é simples, que estão arrolados no primeiro parágrafo desta matéria.   

Vivência da castidade 

Assim, também podemos dizer que um dos maiores antídotos para os males causados pelo pecado, digamos, um “contra pecado”, é a vivência da castidade, na busca por uma vida santa e pura, exatamente porque a castidade é a virtude que direciona para o amor, para a doação, para a unidade interior e à adesão eficaz dos ensinamentos evangélicos de Jesus Cristo. Seria falso afirmar, como vemos alguns dizendo por aí, que “amar, depois do pecado original, tornou-se complicado”. De forma alguma.

Podemos, sim, dizer que amar tornou-se mais difícil por causa das más inclinações que permanecem em nós, mas o contrário de “difícil” é “fácil”, e não “simples”, assim, é possível continuar afirmando que amar continua sendo simples, embora não seja fácil. 

É inegável, no entanto, que o próprio significado do amor vem sendo deturpado pela visão relativista que deseja assumir-se como verdade. Desse modo, o amor, na míope visão mundana, refere-se não ao seu verdadeiro sentido, mas é corriqueiramente confundido com o egoísmo, a manipulação, a compensação, a codependência afetiva, a satisfação momentânea, a permissividade, as desordens sexuais, a instrumentalização do outro em prol dos próprios interesses, enfim, no fundo, o amor acaba por ser confundido por posse, negando, dessa maneira, o seu significado intrínseco, que é liberdade e doação, como nos recordou o casal Chiara Corbelo e Enrico Petrillo: “o contrário do amor não é o ódio, mas a posse.

Deus é amor

O Evangelista João nos ensina que “Deus é amor” (cf. IJo 4,8), portanto, é da Trindade Santa, a perfeitíssima e perene comunhão de amor, que provém a capacidade humana de amar. Já a vivência concreta deste amor nos foi ensinada plenamente por Jesus Cristo: “Jesus fez da caridade o novo mandamento. Amando os seus ‘até o fim’ (Jo 13,1), manifesta o amor do Pai que Ele recebe. Amando-se uns aos outros, os discípulos imitam o amor de Jesus que eles também recebem. Por isso diz Jesus: ‘Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor’ (Jo 15,9). E ainda: ‘Este é o meu preceito: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei’ (Jo 15,12)” (CIC §1823). 

E a virtude que nos capacita para viver o amor verdadeiro, o amor-doação, o amor cujo ápice é a Cruz, como dissemos mais acima, é a castidade. Certa vez, refletindo sobre os votos que os celibatários professam como Comunidade de Vida Shalom, diante de um ícone de Jesus crucificado, percebi que era fácil identificar dois dos conselhos evangélicos, a pobreza e a obediência: a pobreza era visível por Sua nudez e a obediência por Suas mãos e pés pregados à Cruz. Mas, e a castidade? Logo pensei: “ah, a castidade é Jesus todo entregue na Cruz”.

De fato, é. Entretanto, se olharmos com mais profundidade, há um elemento em particular que representa tudo isso: o Seu lado aberto, pois nele, o amor-doação é expresso pela entrega total, até a última gota de sangue: “Jesus conheceu-nos e amou-nos a todos durante sua Vida, sua Agonia e Paixão e entregou-se por todos e cada um de nós: ‘O Filho de Deus amou-me e entregou-se por mim’ (Gl 2,20). Amou-nos a todos com um coração humano. Por esta razão, o Sagrado Coração de Jesus, traspassado por nossos pecados e para a nossa salvação, é considerado o principal sinal e símbolo daquele amor com o qual o divino Redentor ama ininterruptamente o Pai Eterno e todos os homens“. (CIC §478).    

Vida de oração

Voltando novamente para a vida simples de Albertina, nossa pequena beata amava rezar, atitude esta que costuma “simplificar” as coisas. Não estou dizendo que quem reza tem uma vida “fácil”, mas simples. Extremamente simples. Logo cedo, ela aprendeu as fórmulas das orações e as recitava com piedade, e, como é próprio aos simples, que têm o coração puro, conseguiu encarnar o sentido e o alcance de tais fórmulas da fé em sua vida, concretamente. Assim, experimentou uma graça concedida a quem reza de verdade, que é aprender a conhecer a vontade de Deus, que é, por sua vez, sempre a melhor escolha. 

Diante de si, o orante sempre terá apenas dois caminhos: o primeiro, é a via que agrada a Deus e, consequentemente, na outra via resta todo o resto, aquilo que desagrada a Deus. Aquele que tem uma vida de oração reta, tende a sempre escolher o bom caminho, a via que agrada ao Senhor, que, talvez, nunca será a opção mais fácil, mas, repito, é sempre a mais simples, pois é uma reta certa e direta para o céu, enquanto a via que desagrada a Deus é completamente sinuosa, cheia de curvas e que, por isso, nem sempre nos permite ver aonde vai desembocar, portanto é uma via incerta.

No caso da nossa virgem mártir de hoje, que por seus 12 anos de existência escolheu prioritariamente a via agradável ao Senhor, não foi complicado fazer a última escolha de sua vida: decidir-se pelo céu. Mesmo que não tenha sido o caminho mais fácil, não deixou de ser também o mais simples: no dia 15 de junho de 1931, ao ser covardemente assediada por um empregado da fazenda de seus pais, a garotinha prontamente se posicionou diante da proposta imoral de seu agressor, e, convicta, disse: “Eu não quero o pecado!” E por causa de sua escolha simples e extremamente difícil, Albertina despertou naquele homem, tão cheio das gravíssimas complicações trazidas pelo mal, a ira própria daqueles que não conhecem a simplicidade do Evangelho, e foi, por fim, assassinada por Manuel Martins da Silva, tornando-se uma mártir da castidade.

Albertina foi uma menina que ousou ser santa”, disse Dom Jacinto Bergmann, bispo da Diocese de Tubarão, pela ocasião da beatificação dessa pequena fiel. Ela nos ensina que não precisou de ações complicadas, de grandes invenções e de entendimentos grandiosos para ser santa. Apenas viveu com simplicidade a castidade e a pureza de coração até o fim, firmando sua convicção de que o céu é dos castos e dos simples, ou seja, dos que sabem amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos.

Peçamos hoje uma grande graça ao Senhor, pela intercessão da bem-aventurada Albertina Berkenbrock: a simplicidade e a prudência de, sempre que o demônio, o mundo e a carne investirem contra nós, decididamente dizer: “Eu não quero o pecado!”  

Beata Albertina, rogai por nós!

Leia também:

Santas virgens mártires: pureza e coragem na busca pela santidade

Santa Cecília

Santa Inês

Santa Agueda

Santa Luzia

Santa Úrsula

Santa Maria Goretti


Comentários

Aviso: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião da Comunidade Shalom. É proibido inserir comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem os direitos dos outros. Os editores podem retirar sem aviso prévio os comentários que não cumprirem os critérios estabelecidos neste aviso ou que estejam fora do tema.

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *.

O seu endereço de e-mail não será publicado.