Formação

O que Santo Agostinho fala sobre as tentações no paladar, olfato e audição?

Delcy Carvalho, no resumo do capítulo X de Confissões, apresenta o pensamento desse grande doutor e filósofo da Igreja sobre as tentações

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Imagem: Unsplash

Após refletir sobre as provas que sofre e o caminho da continência para , Santo Agostinho reflete sobre as seguintes tentações:

As tentações do paladar

São descritas, visando meditar acerca da temperança. Onde está o limite entre o quanto se deve comer para manter a saúde corporal e o quanto se deve evitar para não incorrer na gula enganadora? Difícil limite de ser estabelecido, entre a saúde e o excesso do prazer.

Não foi dado à embriaguez no passado, mas afirma ter sido arrastado pela intemperança algumas vezes. Como se lida com o alimento várias vezes durante o dia, enfrenta-se esta tentação com frequência. Onde está o limite do que é justo e suficiente?

O prazer que estimula o paladar pode ser traiçoeiro. Cita várias passagens bíblicas que tratam do tema e apresenta personagens que venceram ou sucumbiram diante das atrações do paladar: Davi repreendeu a si próprio por sentir sede, enquanto Esaú rendeu-se por um prato de lentilhas. A Noé foi permitido comer toda espécie de carne, Elias refez as forças com carne, João Batista até comeu gafanhotos, sem ter atraído repreensão sobre si. É preciso manter firmes as rédeas da gula.

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As tentações do olfato

Dá pouca importância às tentações do olfato, por não perceber evidências de que podem causar grandes desvantagens. Diferente das paixões antecedentes, os prazeres olfativos, estando presentes, não os recusa; e estando ausentes, não os procura. Parece um tema não muito relevante, embora conclua dizendo que, na presente vida, cercada de tentações, há uma só e única segurança: a misericórdia divina!

As tentações da audição

Os prazeres do ouvido o prendem com mais força. Confessa aqui sua fraqueza, mas não o faz, citando a disposição dos ouvidos para ouvir palavras indecorosas ou fofocas, mas centra o seu argumento no poder que a música, mormente, a música sacra, exerce sobre as almas.

Cita a importância de submeter as paixões à razão, explicando quem deve ter a primazia.

A música deve elevar os espíritos a Deus e ajudar, sobretudo, determinadas pessoas à oração e à piedade. Cita o episódio de sua conversão, quando, entre lágrimas, na Igreja do Senhor, se dava a sua conversão (a conversão de Agostinho é citada em mais de um momento: escutando Santo Ambrósio, no retiro onde lê a passagem bíblica, na escuta dos irmãos que, nos arredores de Milão, tiveram contato com os escritos de Santo Antão).

A música deve elevar a mente a Deus, só devendo se ter o cuidado para que a  melodia não detenha prioridade sobre a letra, pois assim pode haver dissipação da alma e dos afetos, dirigindo-se a objetos outros que não a adoração devida a Deus. Cita Santo Atanásio, como orientava a recitação dos salmos, em uma cadência tão harmônica que cooperava com a piedade. A música tem reconhecido o seu poder na liturgia católica, sobre o saltério, como afirma Santo Agostinho.

Ao fim deste trecho, cita que quando a música o sensibiliza mais do que a letra, não é benéfico. Com humildade, encerra com um relato da própria fraqueza, desconfiando salutarmente de si próprio. Interessante observar (Há influência platônica aqui neste trecho? Provavelmente. Na República, Platão discorre sobre a primazia que a  faculdade racional deve ter sobre a faculdade irascível e concupiscível e ainda afirma o poder da música na formação moral grega: música para a alma e ginástica para o corpo).

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