No texto inicial desta série dizíamos que a pureza é um dom concedido pelo Espírito Santo, que chega até nós por meio do Batismo e nos permite imitar a pureza de Jesus Cristo, que é o nosso modelo de vida pura e casta. Também dissemos que a conservação da pureza recebida no Batismo se dá por meio de uma guerra: “(…) é preciso combater continuamente contra as concupiscências e desordens que tendem a se levantar em nosso interior, ameaçando a manutenção da pureza do nosso ser. A vitória se dará de forma semelhante à de Jesus contra o mal: pela graça de Deus, crucificar nossas paixões desordenadas junto ao Seu madeiro sagrado”.
Portanto, nada mais justo do que terminar esta série falando sobre os dois combates que a nossa virgem mártir de hoje precisou enfrentar para permanecer fiel a Jesus Cristo até o fim: a Segunda Guerra Mundial e a luta pela conservação da pureza, bem como, sobre as armas que o Senhor nos dá para vencer a luta contra as concupiscências que se levantam dentro de nós.
Ana Kolesárová nasceu na Eslováquia, em 14 de julho de 1928, no seio de uma família de agricultores. Tendo perdido a mãe aos dez anos, a pequena Ana precisou aprender a executar sozinha as tarefas domésticas para ajudar seu pai. Sua história, desse modo, é bem parecida com a de Santa Maria Goretti, todavia, esta perdeu o pai, e não a mãe, na sua infância.
Enquanto crescia, sua beleza resplandecia a pureza que havia em seu coração. Ela dividia seu tempo entre os afazeres domésticos, trabalhos no campo e atividades ligadas à fé, como as pequenas peregrinações marianas que organizava com suas amigas e a Santa Missa.
Quando Ana completou quinze anos, a guerra chegou ao seu povoado. Por isso, a jovem passou a se vestir de preto, como se fosse uma viúva mais velha, pois temia que os soldados percebessem sua beleza e juventude. O disfarce funcionou por algum tempo, entretanto, em 22 de novembro de 1944, uma nova tropa desembarcou no povoado e passou a revistar as casas. Um deles entrou no lar da família Kolesárová e o pai de Ana, supondo que o homem estivesse com fome, pediu que a filha desse-lhe uma refeição.
Foi nesse momento que o soldado percebeu que a menina não era uma velha senhora, mas jovem e bonita. Desse modo, exigiu que a garota se entregasse a ele, sob pena de morte, caso não cedesse. Ana, desejando manter sua pureza, recusou-se. O soldado, por sua vez, ameaçou-a de morte e, vendo que continuava irredutível, apontou-lhe o revólver, ordenando que ela se despedisse de seu pai. A garota, então, apenas disse: “Adeus pai! Jesus, Maria, José!” e logo recebeu um tiro, que a matou. Sua história se espalhou entre os católicos do seu país após a queda da União Soviética. Desde 1996, seu túmulo passou a ser local de peregrinação dos fiéis, que apelidaram esta rota de “Peregrinação da Alegria”, pois afirmam sentir uma grande alegria e paz ao visitar o túmulo desta mártir da castidade. Ela foi beatificada em 1º de Setembro de 2018.
Quanto a nós, que permanecemos nesta luta cotidiana pela pureza, resta-nos conhecer as armas que o Senhor nos dá para combater contra o mal, sabendo que é um exercício que perdurará por toda a vida: “O domínio de si é uma obra de grande fôlego. Nunca poderá considerar-se total e definitivamente adquirido. Implica um esforço constantemente retomado, em todas as idades da vida” (CIC 2342). Não é à toa que a parte da Igreja que se encontra nesta Terra é chamada “Militante”, pois sua luta para viver a vontade de Deus se dará até o último sopro de vida.
Como sabemos, felizmente não lutamos sozinhos. Antes de tudo, temos a graça, que é o favor divino, que vem em socorro das nossas fragilidades. Por isso, nunca podemos desanimar em nossas lutas pela vivência da Castidade, pois é o Senhor que combate conosco e em nosso favor: “Chamado à bem-aventurança, mas ferido pelo pecado, o homem tem necessidade da salvação de Deus. O auxílio divino é-lhe dado em Cristo, pela lei que o dirige e na graça que o ampara: ‘Trabalhai com temor e tremor na vossa salvação: porque é Deus que opera em vós o querer e o agir, segundo os seus desígnios’ (Fl 2,12-13).”
E, por meio da graça, o Senhor nos concede ainda outras armas para lutar pela pureza, como nos ensina o Catecismo, em seu parágrafo 2520: “Pela virtude e pelo dom da castidade, pois a castidade permite amar com um coração reto e indiviso; pela pureza de intenção, que consiste em ter em vista o fim verdadeiro do homem; com uma atitude simples, o batizado procura encontrar e realizar a vontade de Deus em todas as coisas; pela pureza do olhar, exterior e interior; pela disciplina dos sentimentos e da imaginação; pela recusa de toda complacência nos pensamentos impuros que tendem a desviar do caminho dos mandamentos divinos: ‘a despertar a paixão dos insensatos’ (Sb 15,5).”
Por fim, pela oração, como ensina Santo Agostinho: “Eu julgava que a continência dependia de minhas próprias forças… forças que eu não conhecia em mim. E eu era tão insensato que não sabia que ninguém pode ser continente, se vos lho concedeis. E sem dúvida mo teríeis concedido, se com gemidos interiores vos ferisse os ouvidos e, com firme fé, pusesse em vós minha preocupação”. Esta atitude orante, da qual nos fala este Santo que, por graça, superou suas inconstâncias para alcançar uma vida casta e pura, abrange muitas ações, que são como uma colaboração humana no processo de purificação que o Senhor deseja realizar em nossos corações:
A vida sacramental, notadamente a Eucaristia e a Confissão, que são o alimento da alma; a constância na Adoração ao Santíssimo, pois, como ensina São João Paulo II, nos tornamos semelhantes àquilo que contemplamos; o socorro da Virgem Maria por meio da oração do Terço, do Rosário, o Ofício da Imaculada Conceição, o Akathistos etc., porque ela foi imaculada desde sua concepção, portanto, roga em favor do nosso desejo de também ter uma vida sem máculas; a penitência, por meio do jejum e pequenos sacrifícios que podemos oferecer ao Senhor em nosso dia a dia, a fim de purificar e fortalecer a nossa vontade; as leituras espirituais, principalmente das Sagradas Escrituras, que orientam e ordenam a nossa inteligência para aderir ao que é verdadeiro e bom; a amizade com os Anjos e Santos, pois intercedem por nossas necessidades sempre que recorremos a eles; a direção espiritual ou o acompanhamento pessoal, que podem ser feitos por meio de um sacerdote, religioso, leigo consagrado ou um fiel mais experiente do que nós.
Por fim, a oração também nos ajudará a crescer no autoconhecimento, a fim de perceber quais são nossas fraquezas e as más tendências ou ocasiões que nos impulsionam a pecar contra a castidade. Desse modo, poderemos fortalecer as áreas do nosso ser que estão arrefecidas, superar os maus hábitos e evitar as ocasiões de queda.
Recordemo-nos sempre que é necessário suplicar a Deus que o Seu Espírito Santo nos cumule com uma vida guiada pelas virtudes, principalmente pela fé, esperança e caridade, que são as virtudes teologais, responsáveis por aprimorar o nosso relacionamento com Deus, bem como, pela prudência, temperança, fortaleza e justiça, que são as virtudes cardeais, que são como as “dobradiças” que sustentam santamente os nossos relacionamentos.
Desse modo, cientes de que vivemos um grande combate pela nossa santificação e sabendo que esta luta não somente passa pela pureza, mas realmente depende da vivência deste grande dom, por meio de uma vida casta, modesta, equilibrada e sóbria, revistamo-nos das armas que o Senhor nos concede e sigamos em frente, pela intercessão das Santas Virgens Mártires e da Virgem Maria, a Imaculada Conceição.
Terminemos esta matéria com a oração de Santo Afonso de Ligório, autor do excelente Tratado sobre a Castidade, clamando ao Senhor para que O amemos com fidelidade e pureza de coração:
“Meu Deus e meu tudo, apesar de minhas ingratidões e negligências em Vos servir, continuais a me atrair ao Vosso amor. Aqui estou, e não quero resistir mais. Quero renunciar a tudo para pertencer só a Vós. Além de tudo, Vós me tendes obrigado a Vos amar. Eu me encantei convosco e quero a Vossa amizade. Como posso amar outra coisa, depois de ter Vos visto morrer de dor numa cruz para me salvar? Como poderei contemplar-Vos morto, consumido nos sofrimentos, sem Vos querer bem com todo o meu coração? Sim, Redentor meu, amo-Vos com toda a minha alma e não tenho outro desejo senão Vos amar nesta vida e por toda a eternidade. Jesus, minha esperança, minha força e meu consolo, dai-me força para que eu Vos seja fiel. Dai-me luz, fazei-me conhecer as coisas de que me devo desapegar; ajudai-me para que em tudo eu Vos queira obedecer. Jesus, eu me ofereço e me abandono inteiramente em Vós, satisfazendo o desejo que tendes de unir-Vos comigo, a fim de unir-me Convosco, meu Deus e meu tudo! Vinde Jesus, possuí todo o meu ser, atraí para Vós todos os meus pensamentos e todos os meus afetos. Renuncio a todos os meus caprichos, a todas as consolações, a todas as criaturas. Só Vós me bastais. Dai-me a graça de não pensar senão em Vós, não desejar senão a Vós, meu Deus e único bem.
Maria, Mãe de Deus, alcançai-me a graça da perseverança. Amém!
Santas Virgens Mártires, rogai por nós!
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