Constantemente estamos expostos a coisas que nos desagradam, e podemos ter as mais diversas reações perante estas situações. Quando se trata de apenas um sentimento transitório que se desperta dentro de nós e que logo passa, então, é apenas a nossa humanidade reagindo aos estímulos exteriores com os quais interage, ou seja, não há pecado.
Porém, quando se desperta no nosso interior um desejo maior de repulsa, que não passa imediatamente, e com o qual consentimos voluntariamente e alimentamos, até chegar à cólera, ao rancor, ao ódio e até à violência, então, estamos em presença do pecado da ira.
Mas afinal, o que é a ira?
O Catecismo da Igreja Católica (CIC) define a ira como um desejo de vingança (cf. CIC 2302) e, como já mencionamos anteriormente, desejar o mal do outro é um pecado grave, pois, ofende a caridade. O Senhor é claro ao dizer: “Quem se irar contra o seu irmão, será sujeito a julgamento” (Mt 5, 22).
O que cabe quando alguém comete o mal é a correção na caridade (cf. Mt 18,15-20), porém, muitas vezes preferimos guardar rancor das pessoas e alimentar no nosso interior a repulsa por aquela pessoa, contrariando a Palavra de Deus que exorta: “Não guardes rancor de teu próximo, sejam quais forem seus erros” (Eclo 10,6).
Quando esse sentimento cresce, de forma deliberada e voluntária, transforma-se em ódio, que é um dos piores estados no qual um homem pode se encontrar em relação a outro. Afirma o Catecismo: “O ódio voluntário é contra a caridade. Odiar o próximo, querendo-lhe mal deliberadamente é pecado. É pecado grave, quando deliberadamente se lhe deseja um mal grave. ‘Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos céus…’ (Mt 5, 44-45) ” (CIC 2303).
Os efeitos da ira em nós
Além do ódio, a ira traz efeitos terríveis como a vingança, injúrias, blasfêmia, divisões e, em casos extremos, violência e até morte.
Ao falarmos da ira, é necessário fazer a diferença entre a reação humana natural perante o desconforto e o pecado em si. Vejamos bem. Todos temos coisas que nos desagrada, que nos causam desgosto, que nos ofendem e que nos irritam. Ao estar em contato com elas, é normal que surjam sentimento internos de repulsa e de raiva. Isso é normal e os elementos que levam a este ponto variam de pessoa a pessoa.
De igual maneira acontece em relação à intensidade da reação, que pode estar afetada por coisas tão particulares como valores pessoais ou temperamento do indivíduo até, inclusive, a instabilidade do humor. O pecado começa, como destacamos no primeiro artigo em que falamos do vício, quando esta sensação é consentida.
A nossa estrutura humana pode nos deixar mais susceptíveis aos sentimentos mencionados. Variando de pessoa a pessoa, o nosso temperamento pode nos deixar propensos a darmos respostas mais explosivas ou impulsivas. A irritabilidade excessiva pode denotar imaturidade humana e impulsividade no agir pode demonstrar falta de autodomínio. Contudo, nada justifica tais atitudes.
A nossa fraqueza humana não é justificativa para faltar com a caridade. De modo que não adianta justificar a ira com a nossa estrutura humana. Aqueles que apresentam esta tendência devem se esforçar mais do que aqueles que não tem para não faltar com a caridade, de modo que, em certa forma, merece mais mérito. O importante é que ninguém pode se descuidar e das vazão às paixões, independente das condições.
Sinais de alerta da ira em nós
Seguindo a dinâmica dos dois vícios anteriores, apresentaremos algumas atitudes que podem servir como sinal de alerta.
1- Irritabilidade: um sinal pode ser a facilidade e rapidez para se irritar em certas ocasiões. Apesar de que pode denotar uma certa imaturidade humana, pode também ser sinal de espaço que damos à ira dentro de nós, e que pode ou não, terminar em manifestações exteriores.
2- Xingamento: a boca fala do que o coração está cheio, de modo que se com facilidade deixamos escapar algum tipo de palavra agressiva, ofensiva, palavrão ou xingamento, então provavelmente de alguma forma estamos alimentando ira no nosso interior que está lutando para sair.
3- Impaciência consigo mesmo: muitas vezes a ira pode ser si mesmo, principalmente pela nossa imperfeição, que nos leva a cometer erros pelos quais nos arrependemos. Muitos que sentem ira de si mesmos querem progredir rapidamente, invés de esperar o tempo e a obra de Deus. São impacientes consigo mesmos, querem ver resultados imediatos. São estes os que fazem grandes propósitos impossíveis de cumprir. A impaciência atrapalha a obra de Deus e, em si mesma, é uma imperfeição.
4- Relembrar constantemente do mal: às vezes, podemos nos encontrar relembrando a desavença que tivemos com alguém, o mal que o outro cometeu contra nós ou até mesmo lembrar do pecado do outro que vimos e que nos desagradou. Certamente, não podemos controlar nossos pensamentos. Contudo, lembrar voluntariamente e ficar “remoendo” essas memórias negativas, alimentam a ira dentro de nós.
5- Desejo de fazer mal ao outro: quando sentimos ódio por alguém, surge dentro de nós o desejo de fazer mal a essa pessoa. Talvez nunca o façamos efetivamente e talvez nem saibamos que o desejamos, contudo é possível identificar. Muitas vezes ficamos imaginando que faríamos ou que diríamos em determinada situação se aquela pessoa pela qual estamos cultivando o ódio vier fazer tal coisa. Fazemos elucubrações sobre como responderíamos a tal pessoa e qual seria o nosso limite para a agressão física. Tudo isso é cultivo de ódio no nosso interior.
Para refletir
Você percebe algum destes “sintomas” em você em relação a alguém ou a si mesmo? Faça um exame de consciência e com o coração contrito, peça perdão ao Senhor.
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